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Sócrates confirmou sua profecia ao morrer, há 10 anos, com o Corinthians campeão

Por Folha de São Paulo

03/12/2021 20h05 — em
Esportes



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Jogadores perfilados no grande círculo, braços erguidos com o punho cerrado, arquibancadas que reverenciaram, nas faixas e nos cantos, um ídolo eterno.

Há uma década, no dia 4 de dezembro de 2011, o estádio do Pacaembu prestava a sua homenagem a Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, que morreu na madrugada daquele domingo aos 57 anos, em decorrência de um choque séptico.

Foi o capítulo final de uma vida permeada por excessos, especialmente do álcool, mas vivida com a convicção de que sua felicidade estava diretamente ligada a poder escolher o próprio caminho.

Tão convicto era Sócrates de suas ideias que até mesmo sua morte foi profetizada por ele, em um desfecho que, se não tivesse sido dito pelo próprio, pareceria roteiro de cinema.

"Eu quero morrer num domingo, num dia em que o Corinthians ganhe um título", disse o Doutor certa vez.

Pois o pedido foi atendido naquele 4 de dezembro, quando o Corinthians, em um empate sem gols contra o Palmeiras, confirmou a conquista do título brasileiro de 2011.

Nesta sexta-feira (3), como forma de homenagem, o clube do Parque São Jorge lançou uma linha de camisetas que fazem alusão a Sócrates e ao período da "Democracia Corinthiana", movimento de atletas liderado pelo jogador no início da década de 1980.

Na parte frontal da camisa, Sócrates surge de dentro do distintivo do Corinthians em seu característico gesto do braço erguido com o punho cerrado. Na parte de trás, aparecem o número 8 e a inscrição "Doutor Sócrates", com a mesma fonte elaborada pelo publicitário Washington Olivetto para o uniforme corintiano nos tempos da Democracia.

A lembrança de Sócrates, porém, extrapola o campo. Jogador engajado, tinha na política uma de suas grandes paixões. Tanto que se transformou em figura de relevo das Diretas Já, o movimento pela abertura política no fim do período da ditadura militar.

Apesar de sua atuação e do apoio de outras grandes personalidades do esporte e das artes, a emenda Dante de Oliveira, que exigia a votação direta para presidente, não obteve os votos necessários no Congresso e fracassou.

Decepcionado, Sócrates foi para a Itália, onde defendeu a Fiorentina (ITA). Longe do Brasil, sentiria saudades demais do país, dos amigos e de seus prazeres mundanos, como passar uma tarde saboreando a sua cerveja e ouvindo o seu samba rodeado de pessoas queridas.

Aposentado dos gramados após experiências curtas no Flamengo, no Santos e no clube que o revelou, o Botafogo-SP, foi técnico com experiências fugazes, comentarista esportivo com amor indisfarçável pelo Corinthians e jurado no Carnaval do Rio (por uma única edição, na qual estava bêbado demais para avaliar as escolas).

As diversas tentativas de dar sentido à vida pós-futebol só revelaram, para Sócrates, uma verdade óbvia: ele nunca seria tão feliz fazendo qualquer coisa como foi jogando futebol. Especialmente no início de carreira, em Ribeirão Preto, e com as camisas do Corinthians e da seleção brasileira, por quem chegou a abdicar momentaneamente da bebida para estar em forma na Copa do Mundo de 1982.

Talvez por isso, por buscar uma felicidade que já não sentia, desejou que o dia de sua morte fosse marcado por um título corintiano, isto é, para que não houvesse apenas um sentimento de tristeza no torcedor alvinegro, mas também a alegria e os festejos de milhões que puderam celebrar o Corinthians campeão. Se possível, acompanhados de uma cervejinha.


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