Javier Milei e criptomoedas, preço de ovos subindo e o que importa no mercado
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Começamos a semana falando do prejuízo gerado (intencional ou não intencional, a ver) por Javier Milei a investidores de criptomoedas, ovos começam a encarecer no atacado brasileiro e outros destaques do mercado nesta segunda-feira (17).
**A APOSTA CRIPTO DE MILEI**
O conto do presidente que usou mal as redes sociais começa na sexta-feira (14), quando Javier Milei publicou um projeto baseado em investimento de criptomoedas para financiar pequenas empresas.
O post trazia um link para a iniciativa e uma imagem repetida na imprensa argentina, que afirmava que a criptomoeda era "um projeto privado" dedicado a "incentivar o crescimento da economia argentina."
"O mundo quer investir na Argentina". É como ele encerrou o convite, rapidamente aceito por sua base mais fiel.
Economistas, especialistas no universo de criptomoedas do país e políticos da oposição criticaram o líder argentino e disseram que o ativo digital, chamado $LIBRA, poderia ser uma fraude ou um esquema Ponzi.
Ponzi é uma espécie de pirâmide financeira, onde a principal receita é a remuneração pela indicação de novos membros.
"O presidente acaba de lançar publicamente uma fraude global [grosseira e óbvia]. E nada vai acontecer", reagiu Javier Smaldone, especialista em informática, minutos depois no X.
O PODER DA INFLUÊNCIA
Cerca de 80% dos ativos do token estava concentrado nas mãos de poucos antes do apoio público de Milei.
Depois, o valor cresceu de décimos a um pico de US$ 4.978 (R$ 28.512).
Em seguida, o óbvio. Quem tinha os ativos primeiro vendeu a um preço alto, e quem investiu na onda do hype, perdeu muita grana.
O valor do token despencou em seguida.
A manobra é conhecida no trading digital (e no mundo real) como uma espécie de "puxada de tapete".
Não é a primeira vez. Em 2021, quando era deputado, Milei promoveu a plataforma CoinX que oferecia lucros de 8% ao mês em dólares.
Hoje, a plataforma está sendo investigada por suposta fraude.
RETRATAÇÃO
Cinco horas depois do post, o presidente argentino apagou a mensagem e se pronunciou dizendo que "não estava ciente dos detalhes do projeto" e não iria mais divulgá-lo.
Não adiantou muito. O governo argentino anunciou a abertura de uma "investigação urgente" sobre o lançamento da criptomoeda.
Um famoso correligionário de Milei também investiu no mundo cripto recentemente. Clique aqui para ler sobre as investidas de Donald Trump neste universo.
**S.O.S ALEMANHA**
A indústria automotiva foi, por muito tempo, a joia da economia alemã um símbolo da recuperação pós guerra do país.
As três grandes montadoras de lá, Volkswagen, Mercedes-Benz e BMW, passam por dificuldades. A crise pode ser decisiva para as eleições parlamentares que começam ainda neste mês.
O QUE ACONTECE?
A economia alemã vive um momento de desaquecimento, que causou divergências nacionais ao ponto de desmantelar o governo de Olaf Scholz.
O sistema político local é baseado no parlamentarismo, o que significa que ele é alterado sempre que uma coalizão se desfaz.
A recuperação do mercado automotivo é um tópico relevante para acalmar os ânimos, uma vez que ela garante o sustento de muitas famílias alemãs.
UM EXEMPLO
Já falamos nesta newsletter sobre a crise que enfrenta a montadora ao ponto de tomar a decisão histórica de fechar fábricas no país de origem.
Cerca de 60 mil pessoas da região de Wolfsburg, sede da VW, trabalham na fábrica. A população da cidade é de 125 mil habitantes.
Essa planta fabril tem capacidade para produzir 870 mil carros por ano, mas, até 2023, estava produzindo 490 mil, segundo o Instituto Econômico Alemão. Casos similares se repetem em toda a Alemanha.
MAIS PROBLEMAS
A fabricação de automóveis representa cerca de um quinto da produção industrial do país.
Se a cadeia de suprimentos for levada em conta, gera cerca de 6% do PIB (Produto Interno Bruto), de acordo com a Capital Economics. O setor emprega cerca de 780 mil pessoas diretamente.
As vendas de carro também vão mal.
- De 2017 até 2023, as da VW caíram de 10,7 milhões para 9,2 milhões;
- A BMW registrou queda de 2,46 milhões para 2,25 milhões;
- As da Mercedes, de 2,3 milhões para 2,04 milhões, conforme os relatórios das empresas.
O IMPACTO DA CHINA
Outro desafio para os alemães, este ainda mais recente, é a guerra pelo mercado dos elétricos.
As três investiram muito no desenvolvimento da modalidade, que não deu o retorno esperado no tempo planejado.
Nesse setor, o principal problema são os automóveis chineses, que entram com baixo custo e alta tecnologia nessa concorrência.
**OVOS DE OURO**
Na edição de sexta-feira dessa newsletter, falamos sobre como o aumento do preço dos ovos tem causado imbróglios nos Estados Unidos.
A coisa está chegando aqui também. Não da mesma forma, nem com o mesmo impacto. Explico...
O QUE ACONTECE?
A Abras (Associação Brasileira de Supermercados) diz que a valorização do produto se intensificou desde a segunda quinzena de janeiro.
A crise da gripe aviária não é um fator tão relevante para a escassez de ovos por aqui, ao contrário do que acontece nos EUA. Leia esta reportagem para entender melhor a situação por lá.
Uma combinação de fatores contribui para o aumento no Brasil.
Muitos consumidores recorrem aos ovos de galinha para driblar as carnes, que andam bem caras para os consumidores brasileiros.
No acumulado de 12 meses, a inflação das carnes acelerou de 8,33% até outubro para 15,43% até novembro de 2024.
A quaresma, período em que alguns grupos religiosos abrem mão do consumo de carne vermelha (ou de carne animal como um todo), ocorre entre 5 de março e 17 de abril.
Nesse período, é comum que a demanda por ovos aumente.
As rações para as aves nas granjas também ficou mais cara, o que afeta o preço do produto para o consumidor final.
CARO QUANTO?
O preço dos ovos no atacado atingiu o maior patamar histórico no relatório divulgado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da USP na sexta-feira (14).
- O preço de uma caixa com 30 dúzias de ovos brancos chegou a R$ 233,55, um aumento de 37,9% em relação aos R$ 169,33 registrados em fevereiro de 2024;
- A mesma quantidade de ovos vermelhos passou a custar R$ 264,21, um acréscimo de 40,8% em comparação ao mesmo período do ano passado, que era de R$ 187,57.
**VENDE-SE PASSAPORTE**
Se você olhar bem o mapa-múndi, vai achar no Caribe um pequeno país chamado Dominica.
Além do clima quase sempre ensolarado e as praias bonitas, ele tem mais um produto de exportação: o passaporte.
CONTEXTO
Há sete anos, a costa da ilha foi atingida pelo furacão Maria.
O fenômeno destruiu quase todas as casas em poucas horas, além de interromper o fornecimento de água e energia por meses em algumas comunidades.
O que fazer para recuperar um pouco de dinheiro para a reconstrução diante de uma catástrofe dessas?
A resposta: a venda de cidadania.
"Convidamos indivíduos e famílias de todo o mundo a investir no nosso país e, em troca, prometemos dar a eles a cidadania na Dominica, um status que oferece uma infinidade de oportunidades que transcendem fronteiras", escreveu o site oficial do governo.
O QUE O PAÍS GANHA?
Dinheiro, basicamente. Países que são ilhas, em geral, sofrem tendo que gastar muito em moeda estrangeira para fazer importações.
Os investidores tem liberdade para viajar: há países sobretudo no Oriente Médio e na África com passaportes que enfrentam restrições nas alfândegas.
Há também quem queira se livrar de alguma informação no passaporte, e ter um novo, vem a calhar.
O programa gerou mais de US$ 1,2, bilhão (R$ 581,4 bilhões) em receita para a ilha de 2017 a 2020.
As receitas chegaram a 30% do PIB do país.
COMO FUNCIONA?
Há duas formas de os investidores conseguirem a cidadania legalmente.
- Fazendo uma contribuição direta de US$ 100 mil (570 mil) para o Estado por meio do Fundo de Diversificação Econômica;
- Investindo, no mínimo, US$ 200 mil(R$ 1,4 bilhão) em projetos imobiliários aprovados pelo governo.
CRÍTICAS
Os jornalistas do OCCPR (Projeto de Denúncia sobre Crime Organizado e Corrupção) detectaram no registro de nomes que aderiram ao programa, que muitos dos novos cidadãos do país foram investigados, acusados ou condenados por crimes em outros países.
Solicitações da Belarus, Irã, norte do Iraque, Coreia do Norte, Rússia, Iêmen e Sudão estão sujeitas a uma "avaliação adicional, limitações ou proibições explícitas", segundo o governo local.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
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ASSUNTOS: Economia