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O problema do Brasil é o uso de uma linguagem imprópria, não de narrativa


Por Raimundo de Holanda

14/05/2022 17h05 — em
Bastidores da Política



A declaração  do ministro Alexandre de Moraes  sobre os "imbecis” na Internet   foi genérica demais. O problema do ministro, de quem não se nega “notável saber jurídico" está na linguagem. Precisa fazer uma reflexão. Talvez se Moraes mudar a linguagem, o país melhore e os grupos em antagonismo se aproximem. Que tal salvar a democracia, ministro ?

O Tribunal Superior Eleitoral deu muita importância as alegações do presidente Bolsonaro sobre o retorno do “voto em papel” e eventual insegurança do voto eletrônico. Seu maior erro foi convidar as Forças Armadas para participar de uma comissão de transparência das eleições. Não era necessário, mas incomodava os pitacos de Bolsonaro e de militares em relação a seriedade das eleições no Brasil, particularmente sobre a segurança das urnas eletrônicas.

Por mais que o TSE tente consertar equívocos cometidos na gestão de Barroso, vai ficar difícil afastar os militares da comissão de transparência das eleições. Extingui-la passaria a impressão, ruim, de que os militares tinham lá suas razões, por isso foram excluídos.

O problema da Corte Eleitoral e, por tabela, do Supremo, é a linguagem utilizada por alguns de seus ministros. É como se, de um lado, o presidente e os militares espalhassem gasolina e os ministros acendessem o fósforo.

É um incêndio sem tamanho que motiva parte da sociedade brasileira a ficar do lado da direita. Pelo menos é o que se deduz  de  pesquisa divulgada nesta sexta-feira pela Folha.

Vejam o que disse ontem o ministro Alexandre de Moraes, ao se reportar ao que convencionou chamar de “milícias digitais antidemocráticas”:

“A Internet deu voz aos imbecis. Hoje todo mundo é especialista. A pessoa bota terno, gravata, coloca painel falso de livros atrás e começa a falar desde a guerra da Ucrânia até o preço da gasolina, passando pelo Judiciário e acaba sempre atacando o Supremo”.

A declaração do ministro é genérica demais, atinge a liberdade de expressão de qualquer cidadão que utiliza da internet, não para atacar o Supremo, mas para reclamar, com razão, do preço da gasolina que afinal tem relação com os impactos provocados pela guerra da Ucrânia no preço do petróleo. Nem por isso é imbecil.

O problema do ministro Alexandre de Moraes está na linguagem. Precisa fazer uma reflexão. Talvez se Moraes mudar a linguagem, o país melhore e os grupos em antagonismo se aproximem. Que tal salvar a democracia, ministro ?

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.