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O assassinato do estudante Melquisedeque e o desejo coletivo de matar


Por Raimundo de Holanda

19/12/2021 19h18 — em
Bastidores da Política



A semana em Manaus  terminou com um assalto ao ônibus da linha 444. A história toda vocês já conhecem. Mas um personagem, Melquisedeque dos Santos Vale estava  na sua última viagem. Seus sonhos terminavam ali. O rapaz  tinha acabado de sair do trabalho onde ganhara  a primeira cesta de Natal.Tudo na mochila, agora manchada de sangue.

A cena é dramática, comovente e desperta desejos de caçar os criminosos e matar. Mas a polícia se antecipa e prende os assassinos. Lá fora ouve-se gritos  de “mata! mata!”, o que não diferencia muito aqueles que apertaram o gatilho do grupo que desejava espancá-los até a morte. É esse lado perverso que há em todos nós - e que temos sido incapazes de dominar - que gera tanta violência.

O rapaz assassinado tinha origem indígena. Nada mais oportuno do que relembrar o ensinamento, também indígena, de que em todo homem reside dois lobos. "Um é mau, sobrevive da raiva, do ciúme e do ódio. O outro é bom, se alimenta da fraternidade, da paz do respeito e da generosidade.Vence o lobo que alimentamos mais".

Como não temos empatia, nem somos cordiais com ninguém, às vezes nem com nossos filhos; como espalhamos e compartilhamos ódio, como não acreditamos na justiça e nos achamos juízes dos erros dos outros,  como  não fazemos outra coisa senão alimentar o Lobo Mau que há em nós, então é impossível  resolver o problema da violência se a fomentamos.

Não se trata de defender, nem de longe, pessoas que transgridem a lei, que  praticam assaltos e mortes. Trata-se de alertar para a necessidade de cada um reconhecer que o combate à violência começa com um olhar no espelho e observar nossos atos. Onde somos melhores e piores? Por que cedemos tanto ao Lobo Mau que há em nós ?

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.