Na CPI, Pazuello não vai jogar no lixo sua biografia, nem o respeito da família e dos amigos
- O depoimento de quarta-feira na CPI do Senado é a grande oportunidade do general Eduardo Pazuello salvar a si mesmo e manter o respeito conquistado ao longo dos anos servindo ao País, e que parece derreter, inclusive entre os militares
Em 30 de outubro do ano passado, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, foi internado com um quadro grave de Covid no hospital DF Star, Brasília. Apresentava dores de cabeça e estava desidratado. Cinco meses depois, já ex-ministro e convocado a depor na CPI da Covid, Pazuello alegou que possivelmente estava contaminado pelo vírus. Uma reinfecção ? Não se sabe, mas tudo pode vir à tona na quarta-feira, durante seu depoimento.
Outra indagação, que deve estar respaldada no prontuário médico do paciente quando hospitalizado ano passado com o vírus - e que precisa ser requisitado ao hospital onde o general foi internado - é quanto aos medicamentos a ele ministrados, e se desse coquetel constava hidroxicloroquina, que Pazuello empurrou, por ordem de Bolsonaro, goela abaixo dos brasileiros que vivem nos municípios mais pobres do País, enquanto obstaculizava a compra de vacina da Pfazer, em absoluta submissão às ordens de um presidente negacionista.
Na verdade, não vejo culpa em Pazuello. Como ele diz, cumpriu ordens. Não vejo omissão, mas uma compreensível submissão a quem de fato mandava.
Dizer que Pazuello, como general, se rendeu as ordens de um capitão é não compreender que o capitão está acima dele na escala de poder no país. No governo, Pazuello não era um general mandado, era um ministro que implementava diretrizes de um governo negacionista.
Pecou na logística de abastecer Manaus com oxigênio, mas ja disse que a culpa é do governador Wilson Lima. Vai repetir isso na CPI? É provável.
Seu depoimento pode ser, ao contrário do que muitos apostam, o mais esclarecedor e o mais dramático para o governo do presidente Bolsonaro.
Um militar com o currículo de Pazuello não vai jogar a história da sua vida no lixo.
O governo Bolsonaro vai passar em preto e branco, como um período negro da história do Brasil, mas a história de Pazuello como militar vai ficar, e não pode ser maculada pela sua passagem pelo Ministério da Saúde.
O depoimento de quarta-feira é a grande oportunidade do general salvar a si mesmo, a sua biografia e o respeito do país, de seus filhos e amigos.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.