Garotos de aluguel nas eleições deste ano no Amazonas
Quando Zé Ramalho compôs "Garoto de Aluguel" em 1979 não quis fazer alusão a política, mas fez. Embora aqueles tempos fossem diferentes, havia alguma dignidade nos governantes. No Amazonas, o poder estava nas mãos de Enoque Reis e o Brasil tinha como presidente João Figueiredo. Ambos fortes, respeitados. Quarenta anos depois, a história é outra. E "Garoto de Aluguel" se encaixa nos acordos feitos nos porões do poder político, da forma como o sexo sem compromisso exige que eles ou elas não falem de quem os banca. Negam, sem nenhum pudor, que tenham qualquer relação com a cafetina que privatiza o dinheiro da sociedade em um projeto de poder, ou de garantias de que ninguém o enxote de lá.
Neste caso, vale a estrofe marcante dessa composição:
"Baby!
Dê-me seu dinheiro que eu quero viver
Dê-me seu relógio que eu quero saber
Quanto tempo falta para lhe esquecer”.
O SOCORRO DE BRASÍLIA
Para quem gosta de buscar nas composições dos poetas relação com o caso presente, é só lembrar as idas e vindas do “menino” a Brasilia, vinculando decisões de governo a ilusão de uma paz impossível, da eliminação de um perigo real, que nenhum homem, por mais poderoso que seja, pode deter sem contrariar princípios como legalidade e impessoalidade. A muitos homens de poder, esses princípios são caros.
Vale aqui, uma distração. A promessa que Odair José faz a um amor eventual. A letra foi composta em 1972, quando o presidente do Brasil era o temível Emilio Garrastazu Médici. e o Amazonas governado por João Walter de Andrade, respeitado, estudioso, ético. Mas os tempos eram outros.
E Como Zé Ramalho em seu “Garoto de Aluguel”, Odair não tinha intenção nenhuma de que suas letras tivessem cunho politico, mas quão adequada é “Vou tirar você desse lugar” ou dessa dificuldade, para os dias atuais ...
"Olha, a primeira vez que eu estive aqui
Foi só pra me distrair
Eu vim em busca do amor
Olha, foi então que eu lhe conheci
Naquela noite fria, em seus braços
Meus problemas esqueci
Olha, a segunda vez que eu estive aqui
Já não foi pra distrair
Eu senti saudades de você
Olha, eu precisei do seu carinho
Pois eu me sentia tão sozinho
E já não podia mais lhe esquecer
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Eu sei que você tem medo de não dar certo
Pensa que o passado vai estar sempre perto
E que um dia eu posso me arrepender..."
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.