Está na hora do velho Moraes voltar. Ele faz falta ao País
- Não é de bom tom um magistrado dizer que é crime comemorar o 8 de janeiro, por se tratar de uma data em que o Brasil sofreu uma tentativa de golpe de Estado.
Essa é tarefa para o Ministro da Justiça, para a Polícia Federal ou para o Ministério Público. E ainda assim uma advertência carregada de autoritarismo, que expõe as amarras colocadas na liberdade do cidadão se manifestar de forma pacífica.
Agora, sair da boca de um ministro da Suprema Corte, encarregado de julgar mais de 1.300 presos acusados de participarem de ato que destruiu parte da sede dos Três Poderes coloca em xeque a necessária imparcialidade desses julgamentos, e talvez explique, sem nuances, a divisão da sociedade brasileira.
De fato, não há o que comemorar, mas também não há o que justificar um ato de “celebração da democracia", quando vigora a disposição de manter viva a política do “não apaziguamento”. Que democracia é essa?
Prefiro os conceitos de liberdade e democracia que o ministro Alexandre de Moraes externava nos primeiros julgamentos dos quais participou como ministro do STF.
No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade - ADI 4.815, em 2019, o ministro fez uma memorável defesa da democracia: “Seu funcionamento eficaz exige absoluto respeito à ampla liberdade de expressão, possibilitando a liberdade de opinião, de criação artística, a proliferação de informações, a circulação de ideias; garantindo-se, portanto, os diversos e antagônicos discursos - moralistas e obscenos, conservadores e progressistas, científicos e literários, jornalísticos ou humorísticos, pois no dizer de Hegel, é no espaço público de discussão que a verdade e a falsidade coabitam”.
A baderna de 8 de janeiro exigiu um ação drástica do ministro e ele mudou. Mas esse momento excepcional passou. A luz que estava no fim do túnel já se espalha pelo País. Está na hora daquele Moraes que orgulhava o Brasil, o Moraes da democracia sem amarras, bendizendo os discursos antagônicos, voltar. Os brasileiros precisam dele, o STF precisa dele…
ASSUNTOS: Alexandre de Moraes, ato de 8 de janeiro, Bolsonaro, Lula, STF
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.