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Corpos desaparecidos ou trocados nos hospitais de Manaus


Por Raimundo de Holanda

30/09/2020 21h16 — em
Bastidores da Política


  • O coronavirus não matou até esta quarta-feira mais de 4 mil amazonenses porque contra ele não há tratamento eficaz. Matou porque encontrou um aliado: a burocracia agressiva, desorganizada e criminosa.

A noticia do “desaparecimento" do corpo do enfermeiro  Gilberto Pinheiro da Silva, morto por Covid 19 no Hospital Delphina Aziz, em Manaus, não é um caso isolado. Soma-se a dezenas de outros ocorridos durante o pico da pandemia.  Se escandaliza, por motivos óbvios, também revela que o sistema de saúde, que entrou em colápso entre março e julho deste ano, não se curou da apatia. 

O coronavirus não matou até esta quarta-feira  mais de 4 mil amazonenses porque contra ele não há  tratamento eficaz. Matou porque encontrou um aliado: a burocracia agressiva,  desorganizada e criminosa. 

Começa  nos agentes de portaria de um hospital que impedem o acesso de doentes que buscavam  tratamento e termina   na fraude  dos  contratos superfaturados - seja na simples lavagem de um lençol, seja no número de pessoal essencial contratado e que não era e ainda não é fornecido.  

É bom não  esquecer que casos como o relatado pela família do enfermeiro Gilberto Pinheiro da Silva ocorreram durante o pico da pandemia. Em 24  de abri, Reinaldo Agapito foi chamado para buscar o corpo  da mulher, Elce Silva Souza,  que morreu na UTI do Hospital 28 de Agosto. Ao abrir o saco  encontrou o cadáver de um homem. Desesperado, protestou. 

Pressionada, a direção do hospital  encontrou o corpo três horas depois.  Estava largado em um corredor. Ninguém foi punido

Houve dias, como 20 de  abril, em que 100 pessoas foram enterradas em valas comuns, todas vítimas de Covid. Filhos duvidavam que os corpos lacrados fossem de seus pais. Muitos chegaram a burlar a vigilância e abriram os caixões. Alguns conseguiram comprovar a troca. 

Isso está registrado. É a história dessa tragédia humana que o Amazonas  vivenciou e que agora se repete, porque a apatia continua, o descaso continua, o desrespeito às pessoas continua.

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.