Atentado contra carro da Polícia em Manaus é uma afronta aos poderes constituídos
A execução de um detento e o ferimento em outros dois na tarde desta quinta-feira em Manaus ocorreu dentro de uma viatura da Policia Civil do Amazonas. Trata-se, portanto, de um atentado e de uma afronta aos poderes constituídos. Primeiro, ao Estado representado por agentes da Polícia que conduziam presos para audiência de custódia. Segundo, ao Judiciário, em frente do qual - a sede do Tribunal - ocorreu o crime.
Reduzir o episódio a uma guerra de facção é subtrair uma informação fundamental: a de que o Estado, como conhecemos, foi sequestrado. E se esse mesmo estado é incapaz de prover segurança a custodiados levados a um tribunal, como garantir proteção aos demais cidadãos?
A outra questão é mais constrangedora: ao fuzilar os presos dentro de uma viatura da Polícia, preservando seus agentes - apenas uma policial saiu ferida levemente com estilhaços - os criminosos provavelmente quiseram deixar uma mensagem: a de que há uma guerra e na qual os agentes da Lei não poderão se envolver.
Há ainda uma terceira questão a ser esclarecida: houve vazamento da ida dos presos a uma audiência de custódia? Parece que sim. Se houve, partiu da onde? De quem?
O Estado reage como um rio soterrado que explode após uma grande chuva, altivo, soberano, implacável. Mas os danos ficam e ele é novamente envolvido por terras ou se contamina com o lixo que a chuva produziu.
É exatamente isso: o lixo moral que faz do Estado, senão conivente com o crime, subserviente a ele.
Ou as organizações criminosas não teriam crescido sem nenhum freio. E olha que esse “pecado" vem de longe. Muito longe e assombra toda uma cidade hoje, infesta os rios de piratas, mantém milhares de pessoas reféns do medo.
A prova mais robusta - e todo politico com o mínimo de decência há de confirmar - é que a cada eleição, para entrar em determinadas zonas de Manaus, o candidato tem que pedir a benção do chefe do tráfico, o homem de todas as bocas - as que vendem cocaína e maconha, as que consomem e as que , “diligentemente”e "desinteressadamente" provam do negócio…
O atentado em frente Fórum Henoch Reis pode encorajar novas investidas, nova carnificina. É preciso estar atento. O terrorismo no Amazonas deu seu primeiro passo. Contê-lo é o desafio do momento.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.