Aos amigos levados pela pandemia em Manaus, e os filhos que ficaram
Que coisa chata não falar de sonhos e de esperança no ano novo. Sequer há a perspectiva de um novo dia. Hoje são 10 do primeiro mês do ano e ainda não recebi uma palavra de carinho. E sei porque. Como sei! Grandes amigos morreram nessa pandemia - todos acima dos 40 - com se o coronavírus quisesse acabar com toda uma geração que fez, faz ou fazia a história dessa cidade. Em casa a paz também desapareceu: filhos jovens, agitados, revoltados com o isolamento como se fossem imunes e de repente não percebessem que poderão se tornar a maior ameaça para nós. Quando saem, podem trazer o vírus da morte, que vai deixá-los mancos, mais pobres, mais sós, mais amargurados e órfãos. Filhos com asas, difícil segurá-los.
Mas os outros filhos ? Os filhos da politica, os agentes que adotamos para nos mostrar caminhos? Continuam em exaustivas e inúteis reuniões de gabinete, pintando prédios, tocando obras, avaliando orçamento, contratos. Por que ?
David Almeida e Wilson Lima não foram eleitos para mostrar rumos? Buscar soluções ? E o que estão fazendo atualmente? O mais do mesmo. Nada novo. Como se a responsabilidade não fosse deles.
Mais honesto foi o médico Alberto Nicolau, do Grupo Samel, que admitiu que o quadro é dramático, que não há resposta para o tratamento da nova cepa e que alguma coisa precisa ser feita. Mas o quê ? Evitar a proliferação da doença, como já dissemos ontem, mapeando a cidade toda e erguendo nos bairros hospitais de campanha. Não é uma solução, mas pode evitar um morticínio sem precedentes na história do Estado.
David e Wilson Lima não têm apenas a obrigação, têm o dever de sair dos gabinetes, reunir com o Exército, montar tendas nos bairros, iniciar uma ação de socorro, triagem e confinamento imediatos.
É o mínimo que podem fazer diante da impossibilidade de fazer mais.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.