PIB do Brasil cresce 1,4% com impulso da agropecuária no primeiro trimestre de 2025
RIO DE JANEIRO, RJ E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Puxada pela recuperação da safra agrícola, a economia brasileira acelerou o ritmo de crescimento para 1,4% no primeiro trimestre de 2025, na comparação com os três meses finais de 2024, apontam dados do PIB (Produto Interno Bruto) divulgados nesta sexta (30) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O resultado ficou próximo da mediana das expectativas do mercado financeiro, que era de 1,5%, de acordo com a agência Bloomberg. O intervalo das previsões ia de 0,9% a 1,9%.
A alta de 1,4% veio após leve variação positiva de 0,1% no quarto trimestre de 2024, conforme dados revisados pelo IBGE. A nova taxa é a maior desde o segundo trimestre do ano passado, quando o avanço foi de 1,5%.
Considerando apenas o período de janeiro a março, o crescimento de 1,4% repete o registrado no início de 2023 (1,4%). O PIB está no maior patamar da série histórica, iniciada em 1996.
A agropecuária foi o grande destaque entre os setores produtivos no início de 2025. A atividade teve alta de 12,2% ante o quarto trimestre de 2024.
Assim, ofuscou os desempenhos mais fracos do setor de serviços, que teve variação positiva de 0,3%, e da indústria, que ficou praticamente estável, com leve recuo de 0,1%.
Um dos fatores apontados para os resultados de serviços e indústria é o choque na taxa básica de juros (Selic), que dificulta o consumo.
O salto da agropecuária veio no embalo da recuperação da safra de grãos, cujo efeito no PIB fica mais concentrado no início do ano. As projeções indicam produção recorde no campo em 2025.
A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, disse que o resultado do PIB tem "super a ver" com a retomada da agropecuária. O aumento de 12,2% é o maior do setor desde o primeiro trimestre de 2023 (13,8%).
Melhores condições de clima, base de comparação fragilizada e ganhos de produtividade nas lavouras contribuem para a produção maior, segundo a pesquisadora.
"A conjuntura [no campo] está toda favorável para esse bom resultado do primeiro trimestre puxado pela agropecuária", afirmou.
Além da ajuda da safra, o mercado de trabalho seguiu mostrando sinais de força com a geração de empregos formais e renda, após uma série de medidas de estímulo do governo Lula (PT) na economia.
Isso, conforme Rebeca, beneficiou o consumo das famílias, que cresceu 1% ante o quarto trimestre de 2024, apesar do aumento dos juros. Houve uma aceleração desse componente depois da queda de 0,9% no final do ano passado.
"Tem coisas que prejudicam [o consumo], como inflação bem resiliente e política monetária restritiva. Mas a gente continua tendo melhora do mercado de trabalho, o crédito continua crescendo", apontou a técnica do IBGE.
Outro componente do PIB que acelerou foi a FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), que mede o nível de investimentos produtivos na economia.
Houve alta de 3,1% no primeiro trimestre de 2025, depois de um avanço de 0,7% no período de outubro a dezembro de 2024.
"O investimento tem muito a ver com importação e com desenvolvimento de sistemas [software]", afirmou Rebeca.
APERTO DOS JUROS DESAFIA PRÓXIMOS TRIMESTRES
A taxa básica de juros, a Selic, fechou o primeiro trimestre em 14,25% ao ano e voltou a subir em maio, para 14,75%, o maior patamar em quase duas décadas.
O aperto praticado pelo BC (Banco Central) busca frear a inflação e ancorar as expectativas dos agentes financeiros.
Ao longo de 2025, economistas apostam em um ritmo menor do PIB. A previsão está associada ao fim do impulso da safra agrícola e à manutenção dos juros em patamar elevado. A Selic de dois dígitos encarece o crédito para consumo e investimentos produtivos.
O ritmo esperado para a desaceleração do PIB, contudo, não é unânime entre os economistas. Analistas ainda se perguntam até que ponto o governo Lula estará disposto a abrir mão de medidas para estimular a atividade antes das eleições de 2026.
O cenário para os próximos trimestres também carrega incertezas do mercado internacional devido à guerra de tarifas aberta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. No primeiro trimestre, não houve grande reflexo dessa turbulência no PIB do Brasil, apontou o IBGE.
Na mediana, as projeções do mercado financeiro indicam alta de 2,14% para a economia nacional no acumulado de 2025, abaixo do crescimento em 2024 (3,4%), conforme o boletim Focus divulgado pelo BC na segunda (26).
O Ministério da Fazenda, por sua vez, manteve nesta sexta a perspectiva de avanço de 2,4%.
"É um crescimento bom, mas com implicações na inflação", afirma o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale. Na visão dele, a preocupação com os preços não deixa margem para grandes cortes na taxa de juros.
"Estamos falando de um cenário em que a taxa de juros vai ter de seguir elevada", diz.
Vale manteve sua previsão de alta de 2,2% para o PIB no acumulado de 2025. Porém, sem o efeito da safra agrícola e com os juros ainda elevados, é possível que a economia tenha algum recuo no recorte trimestral ao longo do segundo semestre, indica o economista.
O desempenho do PIB tem sido comemorado por Lula e seus apoiadores. Ainda assim, o presidente viu sua aprovação despencar no início de 2025. A inflação dos alimentos foi apontada como uma das principais questões por trás da queda da popularidade do petista.
O PIB é a soma dos bens e serviços produzidos por um país em um determinado período (ano ou trimestre). Seu avanço é usualmente chamado de crescimento econômico.
Na comparação com o primeiro trimestre de 2024, o PIB teve alta de 2,9%. Em quatro trimestres, acumulou crescimento de 3,5%.
"No segundo semestre, os efeitos da política monetária mais restritiva devem se intensificar, especialmente no último trimestre, que pode registrar uma variação negativa em relação ao terceiro", diz o economista Antonio Ricciardi, do banco Daycoval.
Por outro lado, há fatores que podem impulsionar o consumo das famílias, especialmente transferências do governo, afirma o economista. Ele cita a implementação do novo crédito consignado e o pagamento de precatórios.
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