O Brasil registrou em 2024 o menor índice de insegurança alimentar dos últimos 20 anos, segundo dados divulgados nesta semana pelo IBGE. A proporção de domicílios com algum grau de restrição no acesso a alimentos caiu de 27,6% para 24,2% entre 2023 e 2024 — o que representa 2,2 milhões de lares a menos nessa condição, no período de um ano. Ao todo, 18,9 milhões de domicílios ainda convivem com algum nível de insegurança alimentar no país. De acordo com Maria Lúcia Vieira, pesquisadora do IBGE, os níveis de insegurança alimentar moderada e grave atingiram em 2024 o menor patamar desde 2004, ano em que o levantamento começou.

A redução foi observada em todos os graus: a leve passou de 18,2% para 16,4%; a moderada, de 5,3% para 4,5%; e a grave, de 4,1% para 3,2%, o que corresponde a 2,5 milhões de famílias enfrentando privação de alimentos. Com a melhora, a proporção de domicílios em segurança alimentar subiu para 75,8%. 

Apesar do avanço, o Norte do país (37,7%) e o Nordeste (34,8%) seguem com os maiores índices de insegurança alimentar, especialmente nos níveis mais graves — 6,3% e 4,8%, respectivamente. O Sul apresentou o melhor resultado, com 13,5% dos lares afetados, seguido do Sudeste (19,6%) e do Centro-Oeste (20,5%).  O IBGE considera como insegurança alimentar grave a falta de qualidade e a redução na quantidade de alimentos, atingindo também crianças e adolescentes — quando a fome passa a ser uma realidade dentro do lar. 

A pesquisa mostra ainda que a fome é mais comum em domicílios chefiados por mulheres (59,9%) e por pessoas pardas (54,7%). A vulnerabilidade também aumenta entre famílias de baixa renda: dois em cada três lares com rendimento de até um salário mínimo per capita convivem com algum grau de insegurança alimentar. Os dados fazem parte do módulo Segurança Alimentar da PNAD Contínua 2024, desenvolvido em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social. A última vez que o país teve um patamar semelhante foi em 2013, quando o índice chegou a 22,6%, o menor da série histórica.

A nova pesquisa do IBGE confirma a tendência já apontada pela ONU: em agosto, o Brasil foi oficialmente retirado do Mapa da Fome.  O relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2025” mostrou que menos de 2,5% da população brasileira está em risco de subnutrição, tirando o país da lista de nações com insegurança alimentar grave — posição que havia voltado a ocupar em 2022. O resultado reflete a média dos anos de 2022, 2023 e 2024, indicando melhora contínua nas condições de acesso a alimentos.