Wilson Lima desentoca milhares de doses de vacina em Manaus, mas sobrevivência politica é incerta
Com a popularidade em baixa e sob ameaça de afastamento pelo Superior Tribunal de Justiça, o governador do Amazonas, Wilson Lima, nadou forte neste domingo para vencer o banzeiro e chegar à praia com alguma dignidade: desentocou milhares de doses de vacina que mantinha guardadas e as disponibilizou para o público. O que se viu foi uma corrida desenfreada da população de 40 anos aos três postos criados para este fim em Manaus.
Foi um esforço notável, que poderia ter sido feito semanas atrás, antes de o Amazonas reaparecer no mapa vermelho da Covid e registrar, na sexta-feira, 9 mortes.
Na prática, o vírus retornou tão forte que 60 por cento dos leitos da rede hospitalar estão ocupados com doentes em estado grave ou gravíssimo.
Esse novo pico - que já está sendo chamado de terceira onda - é fruto das medidas de flexibilização que o governador adotou, ignorando recomendações de cientistas que apontavam para o risco iminente de um novo surto.
Na verdade, não houve medidas de flexibilização do governador em relação aos decretos que ele assinou anteriormente e que restringiam certas atividades. Houve, sim, uma abertura irrestrita, que incentivou aglomerações e ignorou os alertas de cientistas debruçados em estudos que indicavam o surgimento de variantes (da P.1), que apareceu em janeiro em Manaus), com potencial de transmissão 2,3 vezes maior que o registrado naquele período da pandemia no Estado do Amazonas.
São 17 mutações que alarmaram os cientistas, mas Wilson Lima ignorou o alerta e apostou na imunidade de rebanho.
O Estudo foi publicado em abril pela revista Science, que já apontava o alto risco de uma nova onda, depois de identificarem que das variantes ao menos três eram potencialmente perigosas, pela capacidade de infectarem células humanas. O governador ignorou. O resultado está aí.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.