Uma mulher como vítima e o mundo cão que sobrepuja nossas crenças
A gente, que escreve todos os dias, nem sempre quer ou deseja relatar as tragédias da vida, porque tudo isso cansa: a corrupção que gera pobreza, os amores não resolvidos, as traições, as ideologias que produzem morte e contribuem para a instabilidade de um país.
Há coisas boas - amores correspondidos, amizade, justiça, fraternidade, dignidade, solidariedade. Histórias que passam como se não fossem importantes, como se não interessassem a ninguém. Mas aqui e ali tudo isso cede lugar ao que talvez tenha alguma importância, porque mexe com nossa sensibilidade, porque em parte nos tira desse transe - de que a vida é bela, que as pessoas são solidárias, que a violência de alguma forma pode ser contida.
É quando o mundo cão se fortalece e sobrepuja o lado bom da vida, porque de certa forma contraria nossa crença de que há bondade, há solidariedade e que a humanidade que existe no outro não morreu.
Essa foto da prisão de uma mulher acusada de matar um homem em Manaus é espantosamente agressiva. A suposta criminosa está algemada e a imagem na foto fala por si mesmo.
É uma criminosa? Supostamente, sim. Mas as algemas eram necessárias? E a arma apontada para ela ?
O mundo cão é mais forte e nos conduz a um impasse com os leitores, que querem o que há em abundância: violência, sangue, morte.
Não é que as coisas boas não possam ser contadas - ontem a coluna mostrou uma delegada que aparece em fotos onde não se vê uma arma. Isso e “coisa boa”, isso é o mundo se transformando. Mas no dia seguinte outra cena, outra personagem e uma mulher como vítima…
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.