Pazuello abre uma cova para sua biografia e enterra um governador
- O dia encerrou com nuvens carregadas para o governador do Amazonas, Wilson Lima. Pazuello disse à CPI que Lima foi a Bolsonaro, no auge da pandemia, dizer que dava conta do recado em Manaus. Que a bronca era com ele. Acabou se metendo em outra encrenca. Dessa vez nem Pazuello conseguiu poupá-lo, apesar da estranha blindagem que Brasília e seus poderes vêm dando ao governador, denunciado inclusive de comandar uma organização criminosa no Estado.
O general Eduardo Pazuello conseguiu, nestes dois dias de depoimento, abrir uma cova onde será enterrada sua biografia. Não comportou-se como um militar de primeira grandeza do Exército Brasileiro. Sua missão não era falar a verdade à CPI, mas isentar o presidente Bolsonaro dos erros e omissões no combate a pandemia que ceifou até esta quinta-feira 450 mil vidas. Sai de cena como um comandante que perdeu duas guerras:
1 - a guerra contra a Covid;
2 - a batalha para recuperar a confiança dos que viam nele um líder militar, treinado para servir o País.
Optou por servir um homem cuja sanidade vem sendo questionada junto ao Supremo Tribunal Federal.
Para os que se despiram de qualquer senso crítico, Pazuello foi notável, manteve-se fiel as orientações da família Bolsonaro e preservou o presidente. Estão errados.
O general não conseguiu se contrapor a fatos fartamente apresentados pelos senadores e as contradições de sua própria fala em vídeos e entrevistas.
É tentar minimizar ou desconstruir o trabalho da CPI o grupo onde estão até mesmo estrelas do jornalismo, que argumenta que Pazuello surfou em uma onda que ele construiu durante os depoimentos e que pontuou ao não apontar culpados. Fez pior, se auto-incriminou. Compartilhou responsabilidades com secretários de saúde e governadores.
O ponto sensível da CPI é Manaus, centro da maior voracidade do vírus, com centenas de mortes diárias no inicio do ano, e onde o ministério que o general comandava patinou.
Os senadores Eduardo Braga e Omar Aziz desconstruíram os argumentos do general, que foi desmentido inúmeras vezes. Uma delas - e a mais grave - quando disse que o programa “TratCovid”, criado para monitorar a crise de Manaus nem chegou a ser utilizado, pois fora hackeado. Omar mostrou que o programa chegou a ser exibido pela TV Brasil, do governo Federal.
Quanto ao hackeamento, se é que houve mesmo, é uma novidade que precisa ser melhor explicada.
O dia encerrou com nuvens carregadas para o governador Wilson Lima. Na cova aberta por Pazuello cabe um governador, sabidamente incompetente no combate a pandemia no Estado do Amazonas. O homem que foi a Bolsonaro, no auge da pandemia, quando milhares de amazonenses morriam, dizer que dava conta do recado em Manaus.
A bronca era com ele. Acabou se metendo em outra encrenca e dessa vez nem Pazuello conseguiu poupá-lo, apesar da estranha blindagem que Brasília e seus poderes vêm dando ao governador do Amazonas, denunciado ao Superior Tribunal de Justiça como líder de uma organização criminosa no Estado.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.