O tempo de Amazonino é o tempo da gente
De repente ele tem 82 anos e se tornou um menino. À medida que mexe no livro da vida, descobre que fez história, contada em detalhes nos últimos meses. Uma história que os amazonenses viveram e da qual toda uma geração foi protagonista.
O que mais impressiona em Amazonino Mendes é a infância que ele não perdeu, a juventude que mantém num corpo de 82, a velhice que esbanja sabedoria e se projeta para o futuro como exemplo de que os velhos sonham, amam, são peças vitais em uma sociedade que precisa manter laços com o passado, o presente e o futuro.
Ou talvez não. Como disse Albert Einstein, “a diferença entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão”. E o tempo é relativo.
Nessa viagem no tempo continuamos nós mesmos, apesar da mudança em nossos corpos.
Amazonino é o antes, o agora e o depois. Como cada um de nós que viramos a cada dia a página do tempo, com alguma diferença.
Quem olha para as estrelas vê seu brilho, quem lê acompanha o tempo dobrar sem espanto, mesmo quando o cabelo embranquece e as rugas tomam espaço em nosso rosto.
Os que olham para a escuridão nada veem, mas o tempo dobra e cobra o seu preço.
Amazonino surpreende pela maneira como acompanha o tempo dobrar, sempre lúcido. Tão lúcido, tão menino, tão afoito, que incomoda.
Já anunciaram sua morte várias vezes, enquanto o tempo dobra para ele e os sinos para seus desafetos.
Quem disse que sou eleitor de Amazonino errou. Mas que o admiro, sim. Muito. Pela história de vida que construiu, pela sua inteligência, pela sua sagacidade, pela sabedoria com que acompanha o tempo dobrar…
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.