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Mortes, justiça e linchamentos no trânsito de Manaus


Por Raimundo de Holanda

02/08/2022 20h34 — em
Bastidores da Política



A TV Amazonas em seu jornal da manhã desta terça-feira - o Jam1 - abriu largo espaço para a discussão do tratamento dado a motoristas que causam acidentes fatais e acabam sendo colocados em liberdade nas audiências de custódia.

A liberação dos acusados para responder pelo crime em liberdade não é um estimulo à delinquência. Juízes aplicam as leis, muitas vezes pouco severas, mas não são eles que as elaboram e tampouco as sancionam. Essas são funções  dos poderes Legislativo e Executivo. 

Mas a forma como TV abordou o tema induziu, involuntariamente, o telespectador a uma interpretação equivocada: a de que cabe ao judiciário uma responsabilidade além da de praticar a justiça em moldes civilizatório.

Na medida em que as famílias traumatizadas pelo ocorrido reclamam do que entendem ser a ausência de justiça, abre-se um canal perigoso por onde flui um sentimento de desespero coletivo que fatalmente induz aos linchamentos como formas de justiça.

No caso específico do acidente no qual o motorista Tailan de Albuquerque Barros atirou para o alto depois de atropelar três pessoas, sua reação pode ser considerada  legitima, uma vez que a multidão avançava contra ele para linchá-lo.

Claro que cabe ao Poder Legislativo alterar a lei e impor penas mais severas para quem faz de um carro uma arma mortífera.

Mas não se pode criar um ambiente de dúvida sobre o papel do judiciário, que é amparado em códigos, em leis, ou a população vai se sentir autorizada a fazer justiça com as próprias mãos. 

É fato que a imprensa tem papel fundamental na orientação e na formação da opinião pública. Mas a liberdade de informar e  de expressar o que se pensa importa para a manutenção da democracia. Essa liberdade não pode é ser transformada em mecanismo indutor da descrença na justiça.

Afinal, há fórmulas e princípios que devem ser seguidos, inclusive pelos profissionais que fazem a imprensa e pelos cidadãos que, ao conviverem em sociedade, devem obediência, ao menos, ao senso comum: o de que todos precisam da paz púbica, sem a qual não haverá ordem. Não é o caos que desejamos.

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.