'Fuga' do governador do Amazonas de CPI é admissão de crimes durante pandemia.
- No Estado de Direito quem combate uma organização criminosa é o Estado insuspeito, dirigido por governantes insuspeitos, o que parece não ser o caso do Amazonas...
O governador do Amazonas,Wilson Lima, não estava no carro da Força Nacional que perdeu a direção e caiu em um lago no Amazonas nesta quinta-feira. Mas poderia, estar, já que anunciou ao amanhecer do dia que estava no comando da Operação ‘Mão de Ferro”, com a participação de policiais da FN e da Polícia Militar.
Isso não justificaria sua ausência na CPI da Covid, protegido por salvo-conduto concedido pela ministra do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber. Mas exporia, de forma explicita, o óbvio: que seu governo, sem rumo, derrapa ao longo da estrada. Por imperícia, falta de visão a tudo o que o rodeia, e pela incapacidade de avaliar as consequências de natureza politica de seu gesto.
A ausência de Wilson na CPI da Covid representa a admissão tácita de erros, decisões equivocadas e corrupção durante a pandemia de Covid 19 no Amazonas.
Não comparecer foi admitir os crimes dos quais é acusado. Essa atitude obviamente terá repercussões na área judicial, onde responde por crime contra o patrimônio público.
“Lidera uma organização. criminosa”, como disse a subprocuradora da República, Lindôra Araújo. Mas o governador alegou, para não comparecer à CPI, que ficaria no Amazonas neste momento para enfrentar o crime organizado.
Deve saber como funciona a máquina dessa organização. Afinal, do que foi mesmo acusado ?
Pode haver diferença na forma de agir das diversas organizações que funcionam à margem da lei, mas elas têm o mesmo fim: minar os poderes constituídos. Se uma, a agora atacada, espalha o terror e o medo, incendeia ônibus, ameaça pessoas, a outra da qual Wilson é acusado se apropria de bens da sociedade, abandona os cidadãos que morrem por falta de oxigênio, produz um vácuo na periferia de Manaus e entrega de bandeja comunidades inteiras a outras organizações que vivem do tráfico e da matança.
O crime não é o mesmo ? Não tem semelhança? Sua origem não é a mesma? O desejo de enriquecer a qualquer custo ? O desprezo pela vida ? Seu fim não é destruir a democracia? Minar as instituições? Provocar revolta na sociedade ?
No Estado de Direito quem combate uma organização criminosa é o Estado insuspeito, dirigido por governantes insuspeitos. Do contrário, vivemos uma farsa.
Cabe ao Superior Tribunal de Justiça, que afastou Wilson José Witzel, ex-governador do Rio, pelos mesmos crimes atribuídos a Wilson Miranda Lima, tomar a atitude que se espera de um tribunal acima de qualquer suspeita: afastar o governador do Amazonas e restabelecer a lei e a ordem no Estado.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.