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'Fuga' do governador do Amazonas de CPI é admissão de crimes durante pandemia.


Por Raimundo de Holanda

10/06/2021 17h25 — em
Bastidores da Política


  • No Estado de Direito quem combate uma organização criminosa é o Estado insuspeito, dirigido por governantes insuspeitos, o que parece não ser o caso do Amazonas...

O governador do Amazonas,Wilson Lima, não estava no carro da Força Nacional que perdeu a direção e caiu em um lago no Amazonas nesta quinta-feira. Mas poderia, estar, já que anunciou ao amanhecer do dia que estava no comando da Operação  ‘Mão de Ferro”, com a participação de  policiais da FN e da Polícia Militar.

Isso não justificaria sua ausência na CPI da Covid, protegido por salvo-conduto concedido pela ministra do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber. Mas exporia, de forma explicita, o óbvio: que seu governo, sem rumo, derrapa ao longo da estrada. Por imperícia, falta de visão a tudo o que o rodeia, e pela incapacidade de avaliar as consequências de natureza politica de seu gesto.

A ausência de Wilson na CPI da Covid representa a admissão tácita de erros, decisões equivocadas e corrupção durante a pandemia de Covid 19 no Amazonas.

Não comparecer foi admitir os crimes dos quais é acusado. Essa atitude obviamente terá repercussões na área judicial, onde  responde por crime contra o patrimônio público.

Lidera uma organização. criminosa”, como disse a subprocuradora da República, Lindôra Araújo. Mas o governador  alegou, para não comparecer  à CPI, que ficaria no Amazonas neste momento para enfrentar o crime organizado.

Deve saber como funciona a máquina dessa organização. Afinal, do que foi mesmo acusado ?

Pode haver diferença na forma de agir das diversas  organizações que funcionam à margem da lei, mas elas têm o mesmo fim:  minar os poderes constituídos. Se uma, a agora atacada, espalha o terror e o medo, incendeia ônibus, ameaça pessoas, a outra da qual Wilson é acusado se apropria de bens da sociedade, abandona os cidadãos que morrem por falta de oxigênio, produz um vácuo na periferia de Manaus  e entrega de bandeja comunidades inteiras a outras organizações que vivem do tráfico e da matança.

O crime não é o mesmo ? Não tem semelhança? Sua origem não é a mesma? O desejo de enriquecer a qualquer custo ? O  desprezo pela vida ?  Seu fim não é destruir a democracia? Minar as instituições?  Provocar revolta na sociedade ?

No Estado de Direito quem combate uma organização criminosa é o Estado insuspeito, dirigido por governantes insuspeitos. Do contrário, vivemos uma farsa.

Cabe ao Superior Tribunal de Justiça, que afastou Wilson José Witzel, ex-governador do Rio, pelos mesmos crimes atribuídos a Wilson Miranda Lima, tomar a atitude que se espera de um tribunal acima de qualquer suspeita: afastar o governador do Amazonas e restabelecer  a lei e a ordem no Estado.

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.