Amom x Rocam - um caso de política
Virou um caso de política e menos de polícia a abordagem da Rocam ao carro do deputado federal Amom Mandel, na noite de quinta-feira, na zona Leste de Manaus. Amom registrou um boletim de ocorrência na madrugada, relatando “abuso policial”, enquanto utilizava sua rede social para capitalizar eleitoralmente o ocorrido.
A aposta foi equivocada - ao menos entre internautas, com ‘memes’ e críticas veladas ao parlamentar.
A versão de que Amom deu voz de prisão aos policiais (veja charge) não consta no Boletim de Ocorrência lavrado no 14o Distrito Policial, portanto, não foi confirmada, mas o comportamento do parlamentar revela uma posição de poder inerente a grupos sociais que se julgam superiores, pela formação, pela criação e pelo nome.
Amom reagiu desproporcionalmente, ao enfrentar os policiais que abordaram o veiculo em área considerada vermelha e, portanto, suspeito até então.
Faltou diálogo.
Com um pouco de boa vontade e civilidade - também de parte dos policiais - o caso não teria tomado a proporção que tomou.
Cobra-se da policia presença nas ruas e quando ela age, levada por evidente suspeição de quem pode estar dentro de veiculo parado, com farol queimado - e com motor ligado - o caso encerra com a revista dos ocupantes, verificação de documentos e apreensão do veiculo, ou liberação deste e de seus ocupantes.
Mas depende dos ocupantes. Se for um ‘bacana’, sobra para a polícia, logo acusada de arbitrária. Se for um cidadão comum - que representa o Brasil de segunda classe - ele sai do veículo, abre as pernas e deixa o policial revistá-lo. Se for um “bacana” , com mandato parlamentar, quem pode terminar preso é o policial.
É o Brasil com suas injustiças, com as inversões de valores, com suas tragédias, seus medos e suas castas de poderosos, que afinal podem dizer de várias formas: “Você sabe quem sou”?, ou “com quem está falando?”.
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ASSUNTOS: Amazonas, amom mandel, Manaus, rocam
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.