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Tiago Mestre reflete sobre deslocamento e memória com obras de cerâmica

Por Folha de São Paulo

21/07/2025 9h45 — em
Arte e Cultura



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma viga de aço de 12 metros cruza toda a galeria. Acima dela, estão dispostos objetos de cerâmica —garrafas, tigelas, canecas, cântaros. Ao se aproximar, o espectador percebe o que torna cada um deles únicos —todos estão amassados, como se tivessem levado uma pancada ou caído no chão enquanto secavam.

As esculturas, criadas pelo artista português Tiago Mestre, também estão espalhadas pelo chão, e acima, presas a um bambu, há objetos como correntes, palmas de uma mão e uma máscara.

Arquiteto por formação, Mestre já realizou inúmeras mostras em cidades como Londres, Bruxelas, Munique e Lisboa. Agora, compõe o Panorama de Arte Contemporânea Portuguesa, em cartaz até 12 de outubro em Porto.

A exposição em São Paulo sintetiza seus principais interesses, composta por elementos que refletem seu "arquivo de memórias afetivas" e a vivência no Brasil como estrangeiro. "Queria falar do jeito que nós, como indivíduos e como um coletivo, nos ocupamos de contar a nossa história", diz.

Com os defeitos, os instrumentos de cerâmica perdem a função utilitária, mas o que interessa, diz o artista, não é a perfeição, e sim o movimento de constituição e destituição.

Numa parede, estão expostas esculturas que à primeira vista lembram notas musicais ou cobras, mas Mestre as idealizou como cachimbos, algo aéreo e fluido, como a fumaça que sairia deles. O artista conta que eles foram inspirados por uma descoberta numa residência artística em Londres. O leito do Tâmisa, que cruza a cidade, é repleto desses objetos, descartados séculos atrás.

Para criar os utensílios de beber e comer, Mestre procurou referências no artesanato popular português dos séculos 19 e 20. Mas a cerâmica sempre ocupou um espaço de afeto, já que ele cresceu entre as olarias do sul de Portugal —ele nasceu perto de Alentejo, cidade conhecida como capital da cerâmica portuguesa.

A verve arquitetônica da mostra é uma "reflexão de como habitar o mundo", nas palavras do artista, que pediu à galeria para remover uma parede que separava o espaço expositivo da janela do edifício —as obras agora podem ser vistas do lado de fora, uma vitrine de arte em confronto com as mazelas da rua.

A ideia, afirma o artista, é criar polifonia. "Queria muitas vozes, cada uma se contaminando um pouco. Às vezes cantando juntas, outras vezes sussurrando individualmente. Mas todas em relação."

Ele diz acreditar que a dissonância é algo produtivio. São muitos contrastes numa única sala de sua exposição, a exemplo de uma viga de aço, símbolo do crescimento vertical desenfreado urbano, em contrasta com o bambu, usado em construções mais modestas, muitas vezes fora de grandes cidades.

FOGO FUMO

- Quando De seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 17h. Até 9/8

- Onde Galeria Gomide&Co - av. Paulista, 2644, São Paulo

- Preço Grátis

- Autoria Tiago Mestre


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