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Relatório aponta falta de estrutura e contaminações por Covid-19 nas escolas estaduais de SP

Por Folha de São Paulo

01/03/2021 17h34 — em
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Professores e funcionários com resultados positivos para a Covid-19. Falta de pessoal para fazer a limpeza das salas de aula --atividade tão fundamental durante a pandemia quanto a própria aula. Estrutura inadequada e tão heterogênea nas escolas que causam insegurança em alunos e docentes.

Além das incertezas pedagógicas que rondam a retomada, a volta às aulas na rede estadual de ensino de São Paulo, da gestão João Doria (PSDB), é marcada pelo medo da contaminação decorrente da falta de condições de muitas unidades em receber os alunos e garantir o correto distanciamento entre eles.

Dossiê elaborado pela codeputada Paula Aparecida, da bancada do PSOL na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), a partir de denúncias recebidas de professores da rede estadual de ensino, aponta casos, em ao menos 15 escolas, em que houve a contaminação de docentes e funcionários e a falta de estrutura das escolas para receber os alunos na volta às aulas.

De acordo com dados do sistema da Secretaria de Estado da Educação que acompanha o número de casos de Covid-19 na rede, o Simed, eram 77 os casos de contágio confirmados na rede apenas na primeira semana de volta às aulas.

Docentes e funcionários, no entanto, afirmam que esses números são subestimados, uma vez que, segundo eles, na maioria dos casos os profissionais precisam fazer os testes sem o auxílio do estado.

A doença, de acordo com dados do consórcio de imprensa, já causou 255.018 mortes no país.

Além do número de casos, a maioria deles em docentes e servidores, o dossiê aponta problemas de estrutura nas escolas que evidenciam a falta de preparo para receber os alunos.

Na escola estadual Pedro Alexandrino, na zona norte de São Paulo, a confirmação da contaminação de uma das funcionárias da limpeza, são apenas duas, resultou em um dia sem o processo de higienização da escola.

Para piorar a situação, após a confirmação do caso, a outra funcionária --que mantinha contato próximo com a colega-- só foi dispensada preventivamente do trabalho após pressão dos professores, de acordo com o documento.

O local reservado para elas dentro da escola dá uma ideia do tamanho do problema na rede. Uma sala sem janelas e sem ventilação. O cômodo, na verdade, aponta o relatório, é um espaço para depósito de objetos embaixo da escadaria da escola.

"Essas funcionárias foram ao SUS, no posto de saúde, por conta própria. A secretaria não disponibiliza nada", diz Joseane Batista da Silva, 35, professora e conselheira da Associação de Pais e Mestres.

Segundo ela, os professores temem que a falta de estrutura e a incapacidade das escolas de garantirem o afastamento entre os alunos resulte em mais casos de contaminação pelo Covid-19. "O pátio da escola tem grades, e para colocar essas grades ele ficou menor, algumas janelas têm chapas de ferro, a sala de professores é pequena e abafada", afirma.

Os problemas vão além, segundo a conselheira. "Tem dias que não dá para ficar na sala de aula quando bate o sol e o calor aumenta. A biblioteca tem janelas que ficam atrás das prateleiras e os alunos ficam aglomerados", afirma.

Uma professora da rede que pede para não se identificar afirma que a situação se repete em diversas escolas, com casos confirmados que não são repassados por diretores à secretaria e falta de estrutura.

Segundo ela, há diretores que não se sentem confiantes em denunciar os casos por medo de retaliações.

"Os diretores designados podem ser removidos a qualquer momento por ordem da Diretoria de Ensino, então se sentem fragilizados e têm medo", afirma a codeputada da bancada do PSOL Paula Aparecida, ela própria professora licenciada.

Segundo ela, a fiscalização dos problemas tornou-se ainda mais difícil após o governo do estado proibiu a entrada de parlamentares nas escolas sem a autorização prévia das diretorias de ensino. "Nossa entrada é negada pelo estado. Há casos em que diretores estão pedindo "pelo amor de Deus" para que a gente vá até as escolas porque não há condições de ter aulas", afirma.

Paula afirma que a gestão Doria reabriu as escolas sem um plano técnico individualizado contra a disseminação da Covid-19. "A situação das escolas reflete a desigualdade social. Tem escolas, no interior, que a atuação da Associação de Pais e Mestres (APM) ajuda a melhorar, mas não é o que acontece na maioria delas", afirma.

"Na Pedro Alexandrino já eram apenas duas funcionárias para limpar a escola inteira antes da pandemia. Agora, então, isso é impossível, porque as escolas são estruturadas como verdadeiras cadeias, falta ventilação, falta água, falta sabonete nos banheiros", diz.

O dossiê elaborado pela bancada do PSOL aponta problemas como esses e ao menos outras 15 escolas. Em uma delas, a Professor Antonio José Leite, também na zona norte da capital, um professor filmou as torneiras secas.

Ali, os problemas vão além. O dossiê aponta a falta de funcionários para controlar o distanciamento dos alunos e a entrada e saída.

Diz o documento: "Estamos com falta de funcionários para controlar e fiscalizar o uso adequado de máscara e aglomerações. Teve um dia que deu o horário para os alunos saírem e não tinha ninguém para abrir o portão e os alunos ficaram na frente do portão aglomerados um tempão. E no refeitório para organizar a fila e um protocolo para a merenda também não tem funcionário e muitos ficam sem máscara."

Na Professor Moacyr Campos, na zona leste, o relato dos professores aponta que até a última semana já seriam quatro os docentes contaminados.

Também na zona leste, o relato de funcionários da escola afirma que: "A equipe gestora não se preocupa em manter os estudantes sentados nas mesas do refeitório com distanciamento para se alimentar. Eles andam livremente comendo sem máscara e compartilhando esses alimentos. Não existe uma educação alimentar, não existe um protocolo a ser seguido e a prioridade parece ser a venda dos lanches da cantina, e não a alimentação segura com distanciamento. Professores antigos de casa também circulam na sala dos professores sem máscara."

Na Professor Sebastião de Oliveira Gusmão, no Morro Doce, zona norte da capital, os relatos informam que há casos entre professores e funcionários da secretaria da escola. Ainda segundo o dossiê, falta ventilação nas salas e os alunos não se mantém à distância dos colegas.

Outro problema apontado pelos docentes diz respeito à qualidade do material de proteção individual, os EPIs, disponibilizados pela Secretaria de Educação aos funcionários. "Na primeira semana, as máscaras já estavam rasgando", diz Joseane. "Não tem como se sentir seguro."

Procurada a Secretaria da Educação afirma que sobre os relatos dessas escolas: "Foram confirmados casos positivos em quatro unidades, um caso por escola".

Segundo a pasta, o "protocolo orienta que servidores e estudantes sejam prontamente afastados e todos que tiveram contato direto com o contaminado fiquem em atividades remotas, conforme orientações da vigilância em saúde do município".

Os casos confirmados e sob suspeita são acompanhados por meio do Simed (Sistema de Informação e Monitoramento da Educação para Covid-19 da Seduc-SP).

A secretaria afirma que a equipe da Citem (Coordenadoria de Informação, Tecnologia e Matrícula), a Prodesp (Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo) e a Comissão Médica da Educação se mobilizaram para elaborar um Painel de Monitoramento "para permitir que as escolas possam acompanhar o impacto da pandemia localmente, além de permitir às diretorias de ensino as informações contidas no Simed provendo conhecimento para subsidiar decisões da Secretaria da Educação."

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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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