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Cidades paulistas dizem ter recebido menos doses de vacina do que o necessário

Por Folha de São Paulo

17/06/2021 22h05 — em
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Prefeituras paulistas estão reclamando que o governo estadual, gestão João Doria (PSDB), anunciou o início da vacinação de pessoas de 50 a 59 anos sem enviar o total de doses necessárias aos municípios. Isso levou algumas cidades a suspenderem os agendamentos.

A cidade de São Caetano do Sul (ABC) suspendeu o agendamento para pessoas de 50 a 55 anos. Ele só será retomado com o envio de novas doses pelo governo estadual. O município informou ter recebido apenas 6.198 doses de vacina para esse público, 31% dos cerca de 20 mil residentes na cidade nessa faixa etária.

Entretanto, outros grupos prioritários já se enquadram dentro dessa faixa etária --6.322 pessoas com comorbidades. Com isso, no total, a cidade vacinará 12,5 mil pessoas de 50 anos ou mais. O atendimento ao restante, cerca de 7,5 mil, só será feito após o envio de novas doses.

A prefeitura afirmou ter notificado o GVE (Grupo de Vigilância Epidemiológica) da cidade a respeito e que recebeu a promessa de envio de novas doses até o final desta semana.

O mesmo acontece em Osasco, que recebeu 13.255 doses direcionadas a pessoas de 50 a 59 anos, 16% da população estimada pertencente a essa faixa etária, de 82.560. Apesar disso, foram vacinadas 38.850 cinquentões, muitos deles que atendiam a outros grupos tais como o de comorbidades. Mesmo assim, a prefeitura não sabe quando poderá atender a outras 43.710 pessoas dessa faixa etária, já que depende do envio do governo estadual.

São Bernardo informou que o estado enviou 15.160 doses para aplicação no público de 50 a 59 anos, o que representa cerca de 25% desta população na cidade.

Em Jarinu (68 km de SP), a vacinação para pessoas de 50 a 54 anos só deve ocorrer a partir da próxima segunda-feira (21). A cidade diz ter recebido 625 para esse público, 20,8% do total estimado de moradores da cidade nessa faixa etária.

Situação semelhante ocorre em Serra Negra (139 km de SP), que precisou suspender o agendamento por falta de doses. As vagas disponíveis para vacinação de pessoas de 50 anos ou mais na cidade já foram preenchidas. A cidade diz ter recebido apenas 1.500 das 3 mil doses necessárias.

Por outro lado, alguns municípios menores, como Embu das Artes, Cotia e Ribeirão Pires (na Grande São Paulo), anteciparam o calendário. Cotia já vacina pessoas com 40 anos ou mais, Embu das Artes já imuniza pessoas de 45 anos ou mais, e Ribeirão Pires começará a vacinar habitantes com 48 anos nesta sexta-feira (18). Apesar disso, a Prefeitura de Ribeirão Pires diz também ter recebido apenas um quinto das doses necessárias (2.695 de um total de 17.966 pessoas com 50 anos ou mais). Mesmo assim, conseguiu manter e adiantar a vacinação por dois motivos. Um deles é que todas as faixas etárias anteriores (60 anos ou mais), foram superdimensionadas. Com isso, houve sobra de doses. Outro é que a cidade não trabalhou com a xepa. Se alguém chegasse ao ponto de vacinação perto do horário de fechamento e não houvesse frasco aberto, era orientado a voltar no dia seguinte.

Segundo o médico José Cássio de Moraes, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, e colaborador da OPAS/OMS (Organização Pan-Americana de Saúde), o ideal é que as faixas etárias fossem homogêneas nas cidades.

"O princípio básico para você ter uma imunidade coletiva é ter uma homogeneidade, senão criam-se bolsões de pessoas não imunizadas e acaba por retardar o impacto na redução da doença", afirma.

Moraes afirmou que o fato de municípios vizinhos atenderem a públicos diferentes é consequência da falta de um comando único.

Ele dá como exemplo a vacinação contra a Influenza, que é executada de forma homogênea, para públicos pré-definidos em todo o país. "Isso acontece porque tem vacina e é padronizado", afirmou.

Segundo o especialista, a diversidade de esquemas de vacinação pode forçar a criação de ilhas com taxas de transmissão maiores do que outros locais.

"A anarquia já foi feita. Restabelece a ordem é difícil", afirmou.

A Secretaria Estadual de Saúde informou as 645 cidades de SP, incluindo as citadas nesta reportagem, que receberam doses para avanço no cronograma de vacinação, que passou a contemplar o público de 50 a 59 anos a partir desta quarta-feira (16).

"As vacinas são enviadas de forma gradativa em toda e qualquer campanha, assim que o Ministério da Saúde disponibiliza novas remessas para SP. É responsabilidade dos municípios direcionar as doses conforme tais diretrizes, inclusive com estratificação de grupos e dinâmicas de agendamento como tem ocorrido em diferentes locais do estado", diz o trecho da nota.

Ainda segundo a secretaria, os municípios têm autonomia para organizar e realizar as estratégias de vacinação em sua cidade, considerando a demanda e a rede local.

Em relação às doses que os municípios dizem não ter recebido, a pasta não detalhou especificamente as remessas que fez para as cidades citadas vacinarem pessoas de 50 anos a 59 anos. Entretanto, diz que, em toda a campanha, as cidades de Osasco, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Serra Negra já receberam 340,2 mil, 426,5 mil, 120,1 mil e 17,9 mil doses, respectivamente, seguindo os critérios do PEI (Plano Estadual de Imunização) e do PNI (Plano Nacional de Imunização).

"Destas, foram aplicadas somente 273,9 mil, 364,3 mil, 104 mil e 14,7 mil, evidenciando 'saldos' de 66,3 mil, 62,2 mil, 16 mil e 3,1 mil de doses ainda a serem aplicadas, respectivamente", segundo cálculos da secretaria.

Já o Ministério da Saúde informou que a partir desta quinta-feira (17), mais 4,2 milhões de doses de vacinas Covid-19 começariam a ser distribuídas para todo o país. Para o estado de São Paulo, já foram destinadas diretamente 406 mil doses da Coronavac e serão enviadas 548,7 mil doses da Pfizer.

De acordo com o ministério, com as entregas da semana, a pasta distribuiu a todos os estados mais de 113 milhões de doses das vacinas Covid-19. "A pasta esclarece que, semanalmente, coordena reuniões tripartites, entre União, estados e municípios, para definir a estratégia de vacinação e o percentual que deve ser usado como primeira e segunda dose, a partir das entregas dos laboratórios", diz.

O ministério recomenda que os gestores locais do SUS (secretários de saúde municipais e estaduais) sigam à risca as orientações do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, para completar o esquema vacinal de toda a população.

"No entanto, estados e municípios têm autonomia para seguir a própria estratégia de vacinação, conforme as demandas regionais", afirma.


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