Compartilhe este texto

Amazonas tem tecnologia de diagnóstico de sífilis e HIV

Por Portal Do Holanda

24/05/2011 20h56 — em
Manaus



            A conclusão do projeto de testes rápidos de diagnóstico de sífilis e HIV, desenvolvido pelo Governo Estadual junto às populações indígenas do Amazonas e de Roraima, representa um avanço para saúde indígena em todo país, afirma a coordenadora da pesquisa e ex-diretora da Fundação Alfredo da Matta (Fuam), Adele Benzaken. O resultado dos testes apontou que as áreas indígenas do Vale do Javari e do Alto Solimões, ambas no Amazonas, são as que registram a maior incidência das doenças.

            Conforme Benzaken, além de tornar o Amazonas referência nacional nesse tipo de procedimento, a tecnologia utilizada no projeto, que dispensou estruturas laboratoriais, oportunizará a visibilidade de um cenário ainda desconhecido pela sociedade e comunidade médica, além de já ter possibilitado traçar um panorama pioneiro da saúde indígena.

            Dos mais de 45 mil indígenas em idade sexualmente ativa examinados, de 2008 a 2010, o grupo que apresentou os resultados com os maiores índices positivos de sífilis foi o do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Vale do Javari, com 5,7% do total. Os indígenas do Médio Solimões aparecem em seguida com o percentual de 2,61% das pessoas examinadas nessa região.

            Quanto à prevalência do vírus HIV, os resultados tiveram níveis menores. Nesse caso, os indígenas pertencentes aos DSEIs dos Yanomami, com sede em Roraima, e do Alto Solimões apresentaram 0,12% de prevalência do vírus. Em segundo lugar, a região do Vale do Javari contabiliza 0,10% de soropositivos do total de indígenas submetidos aos testes.

            Os resultados obtidos, de acordo com Benzaken, que idealizou a pesquisa, abrem espaço para a implementação da testagem rápida dentro da política nacional de saúde indígena. “A Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena, antiga Funasa) já nos garantiu a adesão a esses testes em todo o Brasil e, em julho, servidores da Fuam irão a Brasília para capacitar os profissionais de lá”, informa.

            Para Benzaken, os serviços de assistência em saúde aos indígenas que habitam áreas de difícil acesso devem tomar um novo rumo. “Quando é demonstrado que um projeto como esse dá certo, as decisões políticas se tornam mais fáceis”, pondera. Segundo ela, o Ministério da Saúde já sinalizou com a possibilidade de levar os testes rápidos de sífilis e HIV também a maternidades públicas espalhadas pelo país.

Testes serão ampliados

         Até o fim deste ano, de acordo com o secretário executivo de Assistência à Saúde do Interior, da Secretaria de Estado da Saúde (Susam), Evandro Melo, a meta do Governo Estadual é aplicar os testes rápidos de sífilis e HIV em todas as regiões de fronteira e territórios indígenas do Estado, cuja população chega aos 900 mil indivíduos, número correspondente a 55,7% da população indígena brasileira.

         “Mais uma vez, o Amazonas sai na frente com projetos inovadores como este, que já comprovamos que dá certo. É uma tecnologia que pode ser empregada em larga escala pelos nossos agentes de saúde”, salienta Melo. “Aqueles que vivem nos lugares mais distantes poderão ter acesso a uma série de programas de controle que, hoje, só está disponível nas sedes municipais”.

Histórico

         Iniciado em 2008 com a participação de 509 profissionais da Sesai treinados por colaboradores da Fuam, o projeto “Acesso Progressivo à Qualidade: Diagnóstico Seguro de Sífilis e HIV em Localidades Remotas da Amazônia” era planejado desde o início da década. “Em 2002, quando a OMS (Organização Mundial de Saúde) lançou o projeto, a Fuam se inscreveu e participou da concorrência para ser um dos locais, em todo o mundo, para começar a trabalhar com testes rápidos”, lembra Benzaken.

         Foram aplicados testes em 45.612 indígenas, o equivalente a 55% da população sexualmente ativa dos Estados do Amazonas e Roraima. O projeto teve parcerias da OMS, do Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Sáude, da Universidade de Higiene e Medicina Tropical de Londres e da Sesai. O apoio financeiro veio da Fundação Bill e Melinda Gates.

As equipes de especialistas da Fuam e do Sesai passaram pelos sete DSEIs do Amazonas – no Alto Solimões (sede em Tabatinga), Alto Rio Negro (sede em São Gabriel da Cachoeira), Manaus, Parintins, Purus (sede em Lábrea), Médio Solimões (sede em Tefé) e Vale do Javari (sede em Atalaia do Norte) – e outras duas de Roraima, na Leste Roraima e Yanomami (ambas com sede na capital Boa Vista).

A tecnologia utilizada pelo projeto permite a detecção da sífilis e do HIV entre as populações indígenas em apenas 15 minutos, com a vantagem de dispensar a estrutura de um laboratório fechado. “Nosso principal objetivo foi promover o controle dessas doenças entre os indígenas, além de conscientizá-los do uso de preservativos, o que não faz parte da cultura deles”, diz Benzaken.

A pesquisa levou em consideração a vulnerabilidade da população indígena por conta de fatores externos (exploração de recursos naturais ilegais por não indígenas; turismo; presença de missões religiosas e forças armadas no território indígena e proximidades) e internos (desconhecimento sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis; migrações; e restrições ao uso de preservativo).

         Ao longo de todo o projeto, foram evidenciadas e documentadas as técnicas e aprendizagens sobre a viabilidade e custos financeiros da implementação do uso de testes rápidos como ferramenta de rastreamento em população de difícil acesso.

Perspectivas

Entre os principais ganhos do estudo, a curto prazo, avalia Benzaken, está a geração da primeira linha de base, ou seja, o estabelecimento pioneiro de informações referentes à incidência da sífilis e do vírus HIV em indígenas da região amazônica. “Esse tipo de dados não existia antes. Conseguimos uma mostra significativa que, nos próximos anos, poderá servir como referência para novos estudos e vigilâncias”, analisa.

O projeto também proporcionou a maior visibilidade pública e atenção política a esse problema, o que já rendeu a decisão do Ministério da Saúde em expandir o acesso a testes rápidos para sífilis e HIV durante o pré-natal para todos os DSEIs do Brasil. “O ministro Alexandra Padilha também já acenou com a possibilidade de implantá-los na Rede Cegonha (programa do Governo do Federal voltado à atenção de gestantes da gravidez ao segundo mês de vida da criança)”.

A importância de levar as técnicas de testes rápidos às maternidades, segundo Benzaken, ocorre devido à maioria das unidades desse tipo não possuírem laboratórios de exames que funcionem durante os fins de semana. “É comum as maternidades do país que deixam as gestantes internadas no fim de semana porque o laboratório só abre na segunda-feira. Com os testes rápidos, essas práticas acabariam”, defende.

         Outra possibilidade seria a utilização da testagem rápida nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) que disponibilizam testes rápidos somente para a verificação do vírus HIV. “Hoje, o Brasil tem mais de 500 CTAs e uma sugestão seria adicionar o teste rápido da sífilis junto ao do HIV. Acontece muito de as pessoas não retornarem para saber o resultado do teste de sífilis porque que ainda demora a sair”.

A longo prazo, complementa a coordenadora do projeto, são esperados resultados que incluem a redução da mortalidade infantil e menores taxas de prevalência de sífilis na população indígena. “O Amazonas já demonstrou que o projeto é uma experiência bem sucedida, que funciona e que pode render frutos ainda melhores para a saúde. Agora, resta às entidades competentes entrarem com as ações políticas”, finaliza Benzaken.

NULL

Siga-nos no
O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

ASSUNTOS: Manaus

+ Manaus