Europa em pânico:Criação em laboratório de vírus híbrido de gripe aviária desperta temor
©afp.com
Paciente com gripe aviária deixa o hospital na China, 19 de abril, 2013
Mercado de patos em Taipei, 26 de abril, 2013
PARIS (AFP) - Imunologistas expressaram preocupações nesta sexta-feira sobre o trabalho "perigoso" de cientistas na China, que criaram um vírus híbrido de gripe das aves capaz de se disseminar pelo ar entre cobaias, e que agora é mantido no freezer de um laboratório.
A equipe da Academia Chinesa de Ciências Agrícolas e da Universidade Agrícola Gansu escreveram em um artigo na revista científica Science que haviam criado um novo vírus misturando os genes da "gripe das aves" H5N1 e o da "gripe suína" H1N1.
Transmitido às pessoas pelas aves, o H5N1 é letal em 60% dos casos, mas não é transmitido entre humanos, característica que até agora evitou uma pandemia.
Alguns argumentam que estudos híbridos como este esclarecem como o vírus consegue sofrer mutação na natureza para causar uma epidemia humana, e podem ajudar às pessoas a se preparar.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o H5N1 infectou 628 pessoas e matou 374 desde 2003.
O H1N1, que surgiu no México, é altamente transmissível e infectou um quinto da população mundial em uma pandemia registrada entre 2009 e 2010, mas é quase tão letal quando uma gripe comum.
O novo vírus mutante foi transmitido facilmente entre cobaias através de gotículas respiratórias. Com isso, a equipe chinesa indicou ter provado que o vírus mortal H5N1 pode precisar apenas de uma simples mutação genética para "adquirir transmissibilidade entre mamíferos".
Híbridos de gripe podem aparecer na natureza quando duas cepas infectam a mesma célula e trocam genes em um processo conhecido como reagrupamento, mas não existem evidências de que o H1N1 e o H5N1 tenham feito isso até agora.
Alguns observadores temem que a ciência esteja colocando a Humanidade em risco ao criar tais mutantes.
"Estes vírus feitos pelo homem nunca estiveram na natureza. Agora estão armazenados em um freezer", disse à AFP o professor de virologia Simon Wain-Hobson, do Instituto Pasteur, da França.
Wain-Hobson citou um vazamento em laboratório de febre aftosa, uma doença que afeta o gado e que causou um surto na Grã-Bretanha seis anos atrás.
Ainda não ficou claro como o híbrido da gripe, que não é mortal para as cobaias, poderia afetar as pessoas, mas Wain-Hobson alertou: "Estes vírus podem causar pandemias".
"Isto é, se acontecer algum erro e eles escaparem ou coisa parecida, isso pode afetar as pessoas e provocar entre 100 mil e 100 milhões de mortes", acrescentou.
Wain-Hobson e outros temem que o risco possa ser ainda maior que o valor científico da pesquisa.
As descobertas, argumentam, têm pouco valor para a descoberta de uma vacina ou de um tratamento que levaria anos para desenvolver, provavelmente muito antes de um surto.
"O registro de retenção nos mais importantes laboratórios de contenção não é bom. Tem havido repetidos vazamentos", afirmou Robert May, ex-presidente da Royal Society of Science britânica.
"Você não faz estas coisas a menos que exista algum apelo de emergência extrema", afirmou. "Estamos enfrentando um perigo presente e real com benefícios extremamente dúbios para o público".
O virologista John Oxford, da Universidade Queen Mary, de Londres, no entanto, disse que o experimento era um alerta importante.
Ele demonstrou como dois vírus, ambos que ainda infectam pessoas ao redor do mundo, podem trocar genes.
©afp.com
Paciente com gripe aviária deixa o hospital na China, 19 de abril, 2013
"A matemática dirá que cedo ou tarde uma pessoa será coinfectada", afirmou, provavelmente levando a um vírus híbrido "que começará a se disseminar".
"Precisamos nos reorganizar, rever nossos planos de pandemia e estar certos de que temos estoques de vacina para o H5N1", afirmou Oxford.
Em janeiro, cientistas dos Estados Unidos e da Holanda retomaram a controversa pesquisa sobre seus próprios vírus híbridos após uma pausa de um ano para reduzir temores de que o vírus possa escapar do laboratório ou cair nas mãos de terroristas.
Sua criação conseguiu ser transmitida entre furões, considerados bons modelos de pesquisa para a disseminação de doenças entre seres humanos.
As equipes americana e holandesa citaram uma "responsabilidade de saúde pública" para retomar o trabalho, interrompido após um clamor público e sondagens sobre segurança global.
Jeremy Farrar, diretor da Unidade de Pesquisa Clínica da Universidade de Oxford, no Vietnã, disse à Nature News que o novo estudo demonstrou que o H5N1 continuava a representar uma ameaça muito real.
"Eu acredito que esta pesquisa é crítica para a nossa compreensão do influenza. Mas este trabalho, onde quer que seja no mundo, precisa ser estritamente regulado e realizado nas instalações mais seguras, que sejam registradas e certificadas com padrão internacional", afirmou.
NULL

ASSUNTOS: Mundo, Tecnologia