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Com 500 agentes, polícia de Hong Kong invade Redação de jornal pró-democracia

Por Folha de São Paulo

17/06/2021 11h05 — em
Mundo



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Quinhentos policiais de Hong Kong invadiram a Redação do jornal pró-democracia Apple Daily e vasculharam os computadores de repórteres nesta quinta-feira (17), em uma operação que, segundo as autoridades, tratava de esclarecer possíveis violações da controversa lei de segurança nacional da ex-colônia britânica.

Durante a madrugada, a polícia honconguesa prendeu cinco executivos do jornal --o editor-chefe, o diretor-executivo, o diretor operacional, o vice-editor-chefe e o diretor-presidente-- e agentes foram vistos mexendo nos computadores da Redação depois de entrarem com um mandado de apreensão de materiais jornalísticos, incluindo telefones e notebooks de repórteres.

A operação é o mais recente revés para o magnata da mídia Jimmy Lai, 73, dono do Apple Daily e um ferrenho crítico de Pequim. Ele teve seus bens congelados pela lei de segurança nacional e, atualmente, cumpre pena de prisão por participar de manifestações contra o regime chinês consideradas ilegais em Hong Kong.

O Apple Daily transmitiu a operação policial ao vivo em sua página no Facebook. As imagens mostraram o momento em que os policiais isolaram o complexo e entraram no edifício.

"Eles chegaram por volta das 7h, nosso edifício está fechado", afirma, no vídeo, um jornalista não identificado. "Agora podemos observar que estão levando caixas de material para o caminhão". Segundo o relato, a polícia estava impedindo os profissionais da Redação de acessarem determinados andares e de usar vários equipamentos.

Em comentários que ressoaram os alertas sobre as restrições à liberdade de imprensa na cidade, o secretário de segurança John Lee descreveu a Redação do jornal como uma "cena de crime" e disse que a operação tinha como alvos aqueles que usavam suas reportagens como "ferramentas para colocar em perigo" a segurança nacional.

Segundo Lee, os cinco executivos foram detidos por conspiração por meio do jornalismo para incitar forças estrangeiras a impor sanções contra Hong Kong e contra a China.

"Jornalistas normais são diferentes dessas pessoas. Não conspirem com eles", disse o secretário, durante uma entrevista coletiva. "Façam seu trabalho jornalístico com a liberdade que quiserem, de acordo com a lei, desde que não conspirem ou tenham qualquer intenção de violar a lei de segurança nacional."

A polícia congelou 18 milhões de dólares honcongueses (R$ 11,7 milhões) em ativos pertencentes a três empresas ligadas ao Apple Daily e disse que a operação não tinha como alvo a imprensa como um todo. Reportagens de 2019, segundo as autoridades, também poderão ser usadas como provas contra os acusados, embora sejam anteriores à lei de segurança nacional, promulgada no ano passado.

Em uma carta aos leitores, o Apple Daily disse que foi vítima de um ataque direto do regime, mas que sua equipe "continuará firme em seus postos com lealdade e lutará até o fim". Segundo o comunicado, 38 computadores usados pelos repórteres foram apreendidos pelos policiais.

"Este é um ataque flagrante ao lado editorial do Apple Daily", disse Mark Simon, consultor de Lai que está fora de Hong Kong, à agência de notícias Reuters . "Eles estão prendendo o pessoal editorial mais importante." Questionado por quanto tempo ele acha que o jornal pode sobreviver, Simon disse: "Eles decidem, não nós", referindo-se às autoridades honconguesas.

A operação desta quinta-feira foi a segunda vez que a polícia de Hong Kong invadiu a sede do Apple Daily. No ano passado, 200 homens entraram no prédio do jornal para prender Lai sob suspeita de conluio com forças estrangeiras --um dos crimes punidos pela legislação, que prevê penas que podem chegar a prisão perpétua para atos que sejam considerados atividades subversivas, secessão e terrorismo.

Lai está detido desde dezembro, teve seu pedido de fiança negado e já cumpriu várias sentenças por participar de comícios não autorizados, incluindo a onda de manifestações que levou multidões às ruas em 2019 e chamou a atenção da comunidade internacional para as violações de direitos individuais no território.

Muito popular em Hong Kong, o Apple Daily foi fundado há 26 anos e mistura o discurso pró-democracia e as investigações jornalísticas sobre as figuras de poder na cidade com a cobertura da vida de celebridades.

Steven Butler, coordenador do Comitê para a Proteção de Jornalistas na Ásia, disse que a operação destrói a "ficção que restava de que Hong Kong apoia a liberdade de imprensa." Para ele, a China pode conseguir eliminar o Apple Daily, mas "a um preço exorbitante a ser pago pela população de Hong Kong, que desfrutou de décadas de livre acesso à informação".

A operação ocorre ainda poucos dias depois de as democracias mais ricas do mundo terem repreendido a China sobre os direitos humanos em uma cúpula do G7 e a Otan, a aliança militar ocidental, ter alertado Pequim sobre suas ambições.

A ação policial contra o Apple Daily "demonstra ainda mais como a lei de segurança nacional está sendo usada para sufocar a liberdade de imprensa e de expressão em Hong Kong", disse a porta-voz da União Europeia, Nabila Massrali, em um comunicado nesta quinta. "É essencial que todos os direitos e liberdades existentes dos residentes de Hong Kong sejam totalmente protegidos, incluindo a liberdade de imprensa e de publicação."

O secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, Dominic Raab, também disse que a operação teve como objetivo silenciar os dissidentes. "A liberdade de imprensa é um dos direitos que a China prometeu proteger na Declaração Conjunta e deve ser respeitado", disse, referindo-se ao acordo que deveria garantir a autonomia de Hong Kong em relação ao regime central desde que os britânicos devolveram o território à China em 1997.


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