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Análise: Em meio à angústia e ao desespero, o vazio de autoridade

Por Agência O Globo

14/01/2018 21h01 — em
Mundo



Num dia normal, não há muita gente buscando no Google informações sobre como sobreviver a um ataque nuclear. Mas sábado não foi um dia normal.

De quase inexistente, a procura por este assunto atingiu seu pico depois do falso anúncio de que o Havaí seria alvo de um ataque de míssil. Muitas pessoas relataram o que aconteceu entre o alerta e o desmentido. Desespero. Confusão. Incerteza. Na ausência de informações oficiais, tentavam descobrir o que fazer para sobreviver. Muitos contam que souberam do desmentido através da deputada federal Tulsi Gabbard, que usou sua conta no Twitter para afirmar que se tratava de um alarme falso. O tuíte foi enviado para seus 174 mil seguidores cerca de 15 minutos depois do tal alerta. Ao que tudo indica, foi a primeira autoridade a informar que não havia motivo para pânico.

Enquanto no Havaí os moradores viviam momentos de tensão e aflição, Donald Trump participava de uma partida de golfe em seu resort na Flórida. Três horas depois do alerta, o presidente também usou o Twitter, mas para falar de fake news e atacar a mídia. Provavelmente, referia-se a uma história publicada pelo “Wall Street Journal”, uma acusação de que comprou o silêncio de uma estrela pornô com quem teve um affair. Seus 46,6 milhões de seguidores não receberam informação alguma sobre o que acontecia no sábado no arquipélago. A Casa Branca emitiu um comunicado, informando que o presidente fora informado do episódio, e que não passava de um exercício do governo local.

O comunicado tinha um propósito claro: sublinhar que o falso alarme era problema das autoridades havaianas, e não da presidência. Já o tuíte de Trump traduz o que realmente o preocupava naquele momento: reafirmar que, quando se trata de informações sobre ele, a mídia não é confiável.

Trump poderia ter usado o Twitter imediatamente para desmentir a informação. Poderia esclarecer o incidente para milhões e milhões de americanos e assegurar que isso não se repetiria mais. Poderia ter oferecido apoio emocional aos moradores do Havaí. Poderia aparecer ao lado do governador. Não fez nada disso.

Desde o início de seu mandato, Trump raramente respeita a liturgia do cargo. Parece mais preocupado em revidar contra seus oponentes do que informar, orientar e apoiar o povo americano. A maior preocupação de Trump parecer ser o próprio Trump.

Este episódio é emblemático, especialmente depois de tudo o que Trump falou sobre o líder norte-coreano e as ameças de um ataque ao território americano. E mostra que o Havaí, já chamado pelo procurador-geral Jeff Sessions de “uma ilha no Pacífico”, não está entre suas prioridades. Não se deve admitir que um presidente possa ser indiferente a qualquer dos 50 estados americanos. Mas é impossível não pensar se este não é o caso.

Na verdade, a principal mensagem que Trump enviou aos havaianos no sábado foi: vocês que se virem.


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