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Morre Ismael Ivo, dançarino e coreógrafo brasileiro que brilhou no exterior, aos 66

Por Folha de São Paulo

09/04/2021 15h06 — em
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dançarino, coreógrafo, diretor e curador Ismael Ivo morreu aos 66 anos, vítima de Covid-19, nesta quinta-feira (8). A morte foi anunciada nas redes sociais do artista.

O artista estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, há praticamente um mês. Durante o período, ele chegou a ser intubado, mas havia deixado a UTI há duas semanas, após apresentar uma melhora significativa.

Seu quadro clínico, no entanto, piorou inesperadamente na madrugada de quinta, o que ocasionou sua morte.

Ivo, que ganhou notoriedade dentro e fora do país, despontou no auge da dança contemporânea de São Paulo, nos anos 1970.

Em 1978, ele passou a integrar a companhia do americano Alvin Ailey, que ficou conhecida como uma das maiores companhias de dança moderna.

Já ao lado de Karl Regensburger, ele fundou o ImpulsTanz, de Viena, na Áustria, em 1984. O evento, do qual Ivo também foi diretor artístico, é um dos mais importantes festivais de dança contemporânea da Europa.

O artista dirigiu ainda o Teatro Nacional Alemão, em Weimar —foi o primeiro negro e estrangeiro nesse posto e chefiou ainda a seção de dança da Bienal de Veneza.

Durante o período que esteve na Europa, Ivo se aproximou da dança-teatro e do expressionismo. Chegou até mesmo criar um espetáculo ao lado do pintor irlandês Francis Bacon, em 1993.

Além de Bacon, Ivo trabalhou ao lado de outros importantes nomes da arte internacional, como a alemã Pina Bausch e a sérvia Marina Abramovic.

Ele voltou ao Brasil em 2017 para comandar o Balé da Cidade, o corpo de baile do Theatro Municipal de São Paulo, cidade onde nasceu. Em estreia como diretor do Balé, Ivo apresentou os espetáculos "Risco", de Sérgio Ferrara, e "Adastra", de Cayetano Soto.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, naquele ano, Ivo disse que a dança contemporânea é um reflexo de uma série de crises políticas, sociais e existenciais da atualidade. Há ainda, segundo ele, um mea-culpa a ser feito nas fileiras coreográficas.

"A produção tentou quebrar formas e se distanciar de uma dança mais rígida", afirmou. "Nesse movimento, acabou se centrando em si mesma, deixou de considerar a experiência do receptor. Ora, se é para dançar só para você, fique em casa."

Na mesma entrevista, Ivo destacou também os problemas enfrentados pelos artistas brasileiros. "Às vezes, não percebemos que aqui no Brasil há coisas até mais vanguardistas do que lá fora. Ao mesmo tempo, os gestores da cultura ficam perdidos no turbilhão da novidade, no tempo da notícia, sem se dar conta de que, para se construir algo, é preciso um longo período."

No ano passado, integrantes do Balé da Cidade encaminharam denúncias de assédio moral contra ele, que foi demitido pouco tempo após as acusações.

Uma série de personalidades lamentou a morte de Ivo nas redes sociais. "A dança acorda mais triste hoje", escreveu o rapper Emicida. "Um destruidor de barreiras em toda a sua trajetória."

A bailarina Ingrid Silva escreveu que "o mundo da dança e história brasielira perderam um ícone" e publicou uma foto dela ao lado de Ivo. A dançarina ficou conhecida por pintar sapatilhas com a cor de sua pele e criticar o racismo neste setor.

A também coreógrafa Inês Bogéa, diretora da São Paulo Companhia de Dança, e os cantores Fabiana Cozza, Johnny Hooker, Karina Buhr foram outros que prestaram homenagens.

O governador de São Paulo, João Doria, do PSDB, o classificou como um dos maiores coreógrafos contemporâneos.

"Ismael foi diretor da Bienal de Veneza, do Balé da Cidade, e o primeiro estrangeiro a dirigir o Teatro Nacional Alemão", escreveu Doria no Twitter. "Era um amigo querido. Muito triste."

Sérgio Sá Leitão, secretário de Cultura e Economia Criativa de São Paulo, anunciou também nas redes sociais que a SP Escola de Dança Ismael Ivo, projeto desenvolvido pelo coreógrafo desde o ano passado, será implementado.

Ivo deixa uma irmã, Vera, e uma sobrinha. O velório do corpo será no Ossel, em São Caetano do Sul, no ABC paulista.
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