Compartilhe este texto

Em busca de poder de fogo, Corinthians celebra 70 anos de ataque fulminante

Por Folha de São Paulo

19/01/2022 8h35 — em
Esportes



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Cheio de jogadores criativos e ofensivos, como Giuliano, Paulinho, Renato Augusto, Willian e Róger Guedes, o Corinthians busca um centroavante que possa aproveitar a fecunda companhia colocando bolas na rede. Não há no mercado, porém, um nome como Baltazar, que chegou do Jabaquara para se tornar um dos grandes camisas 9 da história do clube.

O Cabecinha de Ouro foi um dos responsáveis pelo ataque mais prolífico nos 111 anos da agremiação alvinegra. No Campeonato Paulista de 1951, finalizado em 1952, o time do Parque São Jorge precisou de apenas 27 jogos para chegar a cem gols. Campeão antecipado, terminou a competição com 103 tentos em 28 partidas, uma impressionante média de 3,68 caixas guardadas por confronto.

Os três dígitos foram atingidos há 70 anos, em 19 de janeiro de 1952. Com o título assegurado seis dias antes, os comandados de Rato não tiveram de exibir o seu melhor futebol para derrubar o Ypiranga e alcançar a meta (centenária) que restava após o cumprimento da principal: o fim de um jejum estadual que já durava dez anos.

"Mesmo não atuando com a classe de um verdadeiro campeão, o Corintians, na tarde de ontem, no Pacaembu, sobrepujou a equipe do Ipiranga, impondo-lhe o placar de 3 a 0. Não há duvida que o 'Campeão do Centenario' mereceu a vitoria", relatou a Folha da Manhã, que, em mais uma jornada de ataque produtivo, destacou a atuação de um beque.

"Murilo voltou a ser a principal figura do onze corintiano. Otima partida disputou o zagueiro mineiro, surgindo como o principal elemento em campo. Destacaram-se ainda na retaguarda do Corintians os medios Idario e Lorena", descreveu o jornal, que elogiou as finalizações de Baltazar e Jackson.

O Corinthians ainda fechou a campanha com um triunfo por 3 a 1 sobre o arquirrival Palmeiras. E adicionou mais um troféu em uma sequência gloriosa: na primeira metade dos anos 50, em uma época na qual não existia Campeonato Brasileiro, levou o Paulista três vezes, conquistou também três vezes o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Rio-São Paulo, e ergueu a Pequena Taça do Mundo, na Venezuela, derrubando Roma e Barcelona.

Foi uma época tão marcante que virou até música, a marchinha "Gol de Baltazar", de Alfredo Borba, gravada na voz de Elza Laranjeira: "Gol de Baltazar, gol de Baltazar, salta o Cabecinha, 1 a 0 no placar." Mas o 1 a 0 não foi o placar mais recorrente no caminho para o troféu de 1951, registrado apenas duas vezes.

Para fazer a festa, a equipe alvinegra atropelou adversários como o Comercial de São Paulo, superado por 9 a 2, o Jabaquara, derrotado por 7 a 1, e o Juventus, que levou 7 a 2 em jornada com cinco tentos de Baltazar. O rival São Paulo foi goleado nos dois turnos: 4 a 0 e 4 a 1. O Santos tomou 4 a 1 e 4 a 2. Até Mário, um driblador impressionante que preferia as fintas aos gols, deixou sua marca no dia em que o Radium perdeu por 5 a 2.

"E no dia 17 de novembro desse ano acontece um fato quase inacreditável", relata Lourenço Diaféria, no livro "Coração Corinthiano" (1992), referindo-se a 1951. "O ponta-esquerda Mário, que driblava a própria sombra, marca seu primeiro gol no Corinthians! A torcida mal crê no que vê. Mário marcando gol! Delírio nas arquibancadas. Mário detestava marcar gols. 'Minha mãe não gosta', ele explicava aos companheiros..."

Diz o folclore alvinegro que a mãe do jogador sentia pena dos goleiros batidos. Outra lenda aponta que ele iludira uma mulher no Rio de Janeiro e enxergava o rosto dela tomando o espaço das traves. Os torcedores mais velhos juram ter visto o camisa 11, com o gol aberto, recuar para conduzir a bola e buscar mais dribles. Exagero, certamente, mas o carioca encerrou sua passagem pelo clube da zona leste paulistana com apenas cinco bolas na rede em 57 participações.

Já Baltazar não nutria a mesma compaixão pelos arqueiros e marcou 269 vezes com a camisa do Corinthians, 25 delas no Paulista de 1951. Porém o goleador do torneio foi o meia-esquerda Carbone, com 30 tentos, o que lhe rendeu o seguinte verso na marchinha "Gol de Baltazar": "Carbone é o artilheiro espetacular".

O ataque dos cem gols contava ainda com Cláudio, até hoje o jogador que mais foi à rede pelo clube do Parque São Jorge (305 caixas), e com Luizinho, o endiabrado Pequeno Polegar. O que não impediu que a campanha avassaladora tivesse também uma dura derrota.

Contra a Portuguesa, em 25 de novembro de 1951, Idário e Carbone (2) marcaram. Porém o recém-chegado goleiro Gylmar foi vazado uma vez atrás da outra na goleada rubro-verde de 7 a 3. Afastado, perdeu a posição para Cabeção, titular na conquista do título, antes de alcançar o prestígio que o manteve na equipe até 1961 e o fez ser reconhecido como um dos grandes nomes de todos os tempos em sua posição.

O fracasso virou nota de rodapé na biografia do craque e virou também nota de rodapé na trajetória do excepcional Corinthians de 1951. Coube a Carbone, "o artilheiro espetacular", fazer o centésimo gol de um time que tem lugar de destaque na história preta e branca.


Siga-nos no
O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

ASSUNTOS: Esportes

+ Esportes