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CAPACIDADE DE INDIGNAÇÃO


Por Flávio Lauria

01/01/2024 13h22 — em
Espaço Crítico



Começo de ano e volto ao meu olhar crítico. Chega a ser curioso o comportamento de parcela do povo brasileiro. É possível observar uma massa enfurecida de torcedores quando descobrem que houve algum erro grosseiro de um juiz em uma partida de futebol, com violento protesto destes torcedores, protestos, que muitas vezes, extrapolam os limites físicos do estádio, (o que não deixa de ser uma forma de protesto). Não obstante, este mesmo povo, capaz de protestar violentamente em defesa de seu time de futebol, é incapaz, de se indignar, ou pelo menos, manifestar sua indignação, diante da enxurrada de escândalos envolvendo o mau uso do dinheiro público por seus representantes. Agora, mais desconcertante ainda, é o fato de saber que pessoas esclarecidas, geralmente com ensino superior (médicos, dentistas, contadores, advogados, professores, administradores, fisioterapeutas, etc.), também se tornaram pessoas apolitizadas (ignorantes, politicamente), incapazes de manifestar sua indignação. É muito grave quando pessoas simples perdem o poder de indignação, porém, é perturbadoramente arriscado, que a classe intelectual também perca este poder, pois, representa grande risco para o estado democrático de direito. A referência que nossos filhos e netos conseguem enxergar é que para ficar rico ou crescer profissionalmente, não precisa estudar nem trabalhar, é só ganhar na loteria, ser jogador de futebol ou entrar na política. Não era segredo para ninguém minimamente informado, que o Congresso Nacional era um circo, onde alguns palhaços "brincam" de fazer política, enquanto exercitam suas inesgotáveis habilidades de desenvolver truques no picadeiro, entretanto, tal como bem gostam os brasileiros, mantinha-se ao menos uma aparência de seriedade. Agora, fica evidenciado que esses sujeitos resolveram deixar claro que não estão nem aí para a opinião pública, partindo para a comprovação explícita de que são uns aproveitadores, os deputados "brincam de trabalhar", não passam de "massa falida", usadas exclusivamente para, através de um cínico jogo de faz de conta, justificar os nababescos salários que recebem e as indignas mordomias que usufruem. Colocar valores como colocaram para Fundo partidário de cinco bilhões, é no mínimo aviltante. E continua a falta de indignação, agora com o aval da imprensa, registrando com suas lentes nos picadeiros, ofensas morais, agressividades físicas, provocações e alfinetadas. E pelo povo ecoa o silêncio das gargantas. É certo, que razoável parte dos “cidadãos” brasileiros não apresenta, infelizmente, condição de manifestar opinião ou exigir comportamento adverso dos seus representantes por absoluta falta de ensino de qualidade. Um ensino capaz de tornar parcela considerável da população, seres pensantes, verdadeiros cidadãos que tenham condição de fiscalizar e exigir condutas éticas dos que elegeram. Ano de eleição, e a capacidade de indignação não é só no legislativo, temos que voltar os olhos para o Executivo, fundamentalmente, em Prefeitos e vereadores. Indigne-se.

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