Compartilhe este texto

Bolsonaro liga alerta para investidor que têm ações de estatais

Por Folha de São Paulo

01/03/2021 10h33 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As falas mais recentes do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que sinalizaram interferência na gestão das empresas que estão sob o controle da União, geraram instabilidade no mercado financeiro e evidenciaram a exposição que essas companhias têm ao chamado risco político.

Em 19 de fevereiro, uma sexta-feira, Bolsonaro anunciou a indicação do general Joaquim Silva e Luna para substituir Roberto Castello Branco na gestão da Petrobras. Na segunda-feira seguinte, as ações da companhia chegaram a cair mais de 20% ao longo do pregão. Apenas nesses dois dias, a petroleira perdeu R$ 102,5 bilhões em valor de mercado.

O temor de uma interferência política ainda maior respingou nas ações de outras empresas estatais --como Eletrobrás, Banco do Brasil e Sabesp-- que também apresentaram quedas naquela segunda-feira.

O Banco do Brasil voltou a ser penalizado na sexta-feira (26), quando circulou a informação que o presidente da instituição, André Brandão, teria colocado o cargo à disposição do presidente Bolsonaro. Ao final do pregão, as ações acumulavam queda de 4,92%, cotadas a R$ 28,05.

Brandão estaria se antecipando, pois a sua demissão é considerada certa para algum momento em março. Bolsonaro já manifestou a intenção de substitui-lo, especialmente após Brandão promover, em janeiro, ajustes no banco que incluíram o fechamento de agências e um plano de demissão voluntária. O banco divulgou comunicado na sexta negando o pedido.

O movimento, que continuou ao longo da semana, trouxe outros dias de perdas para as ações das empresas sob controle do governo e tem, cada vez mais, afastado investidores dessas companhias.

"Uma das coisas negativas de investir em estatais é que sempre existirá o risco de ter interferência do governo. Além disso, por servirem ao Estado, o objetivo dessas companhias não é apenas dar lucro, mas ter um lado social, o que normalmente implica em uma defasagem operacional em relação aos seus pares privados", afirmou o analista de ações da Easynvest, Murilo Breder.

Para o investidor, isso significa que as ações dessas companhias podem ser negociadas com desconto --ou seja, um valor mais baixo do que aquela empresa realmente vale. As oscilações vão depender de quem está no cargo de presidente da República, de suas relações partidárias e do quão pró-mercado é a agenda dessa gestão.

Essas ações também costumam ser mais baratas em relação aos papéis dos pares privados ou internacionais (caso da Petrobras).

Segundo Breder, a recomendação é que as empresas estatais representem no máximo 30% da carteira de ações.

Neste momento de intervenções em estatais federais, os investidores passaram também a considerar os riscos de interferência política nas estatais estaduais, como Cemig, Copel, Copasa e Sanepar. Na sexta, essas companhias encerraram a sessão com quedas de 0,08%, 1,63%, 3,48% e 2,70%, respectivamente.

Segundo o sócio da Rio Gestão de Recursos, André Querne, ainda que empresas estatais possam ser grandes pagadoras de dividendos --principalmente no caso de Petrobras, Eletrobras e Banco do Brasil--, os investidores precisam fazer uma análise mais aprofundada dessas companhias antes de optar por investir em suas ações.

"É preciso ter uma análise mais profunda, até porque o dividendo, dependendo da tomada de decisão do governo e da empresa naquele momento, pode diminuir muito", disse.

Os dividendos são partes do lucro de uma empresa e são distribuídos conforme um calendário informado pela companhia, indicando o que o mercado chama de "Data Com" e "Data Ex".

A Data Com representa o último dia que o investidor deve ter posição na empresa para poder ter o direito de receber dividendos. Caso ele venda sua participação antes dessa data, não receberá o provento.

Já a Data Ex --ou ex-dividendos-- é o dia útil seguinte à Data Com. A partir desse dia, o investidor que comprar a ação não terá direito a receber dividendos por um período.

Na última quarta-feira (24), por exemplo, a Petrobras anunciou que seu conselho de administração aprovou uma remuneração sob a forma de dividendos de R$ 10,3 bilhões --o equivalente a R$ 0,7846 por ação em circulação.

No caso de Petrobras, a Data Com é 14 de abril --ou seja, este é o último dia para que o investidor tenha ações da petroleira na carteira e possa receber dividendos. Se alguém comprar a ação no dia seguinte, só terá direito ao dividendo quando a Petrobras anunciar uma nova rodada de distribuição, e não mais ao resultado referente a 2020.

Isso não significa, necessariamente, que o investidor precise segurar as ações da companhia até essa data --ele pode vendê-las se encontrar uma oportunidade de realizar lucros e recompra-las até o dia 14 para obter o direito aos proventos, por exemplo.

A Data Com da Eletrobras foi em 3 de fevereiro e a do Banco do Brasil, em 22 de fevereiro.

Segundo o economista da Órama, Alexandre Espírito Santo, a estratégia também precisa contar com uma análise sobre qual o prazo de investimento.

"De modo geral, qualquer investimento em ações precisa acontecer de olho no médio e longo prazo. E é preciso entender, também, que Bolsa de Valores não é cassino. A especulação faz parte do jogo, mas é preciso ter conhecimentos sobre o mercado, finanças e economia antes de seguir essa onda", afirmou.

Os analistas afirmam, ainda, que o investidor também precisa conhecer o seu perfil ""saber se é conservador, moderado ou arrojado"" para alocar seus recursos conforme seu apetite para risco.

"Quem investe na Bolsa, tem que ter paciência e entender que preços variam e que não adianta vender e comprar na emoção. Além disso, a carteira precisa ser diversificada", afirmou Breder.

Siga-nos no
O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

ASSUNTOS: Economia

+ Economia