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'Teremos o março mais triste', prevê pneumologista da Fiocruz

Por Portal Do Holanda

02/03/2021 8h54 — em
Brasil


Cemitério de Manaus - Divulgação Secom

Em vários municípios brasileiros, leitos de enfermaria e UTI estão lotados de pacientes com Covid-19. Não há mais vagas e os doentes não param de chegar.

Segundo um site de notícias do Globo, dados das secretarias estaduais de saúde apontam que 17 estados têm ocupação em hospitais acima de 80%, um nível considerado crítico. Outros oitos estados têm taxas que superam os 90% — no Rio Grande do Sul, por exemplo, o número chegou a 100%.

A pneumologista Margareth Dalcolmo, professora e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, se diz preocupada com esse cenário.

Em entrevista à BBC News Brasil, a médica diz que nós estamos num momento muito grave da pandemia no Brasil, com um recrudescimento já materializado daquilo que consideramos uma segunda onda. "Isso não nos surpreende, uma vez que as medidas de controle sanitário não foram só controversas, mas também ineficientes por um longo tempo. Nós sabemos também que a única solução possível para controlar a pandemia será a vacinação, e a campanha está apenas no início, numa velocidade muito aquém do desejável", disse em entrevista.

Ela conta que para completar, tanto os cidadãos como as autoridades políticas não estão se conscientizando do que é preciso fazer neste momento. Para ela, seria necessário todos manter comportamentos individuais e coletivos de muito cuidado, com uso de máscara e distanciamento social. Além de medidas mais drásticas, com o fechamento de muitos serviços, para diminuir a circulação de pessoas e reduzir a transmissão viral.

"E agora eu não tenho dúvida de que teremos o mais triste março de nossas vidas. Isso é resultado do Carnaval e do descompasso entre o que nós, cientistas, dizemos, e o que as autoridades afirmam. Nos últimos dias, ouvimos que não é pra usar máscaras. Não há dúvidas, está demonstrado que a máscara é uma barreira mecânica que protege quem usa e todo mundo ao redor", opinou.

Questionada sobre a pandemia em Manaus, a pesquisadora comentou que a situação do Amazonas e de toda região Norte é muito particular.

"Manaus é uma cidade afastada, de difícil acesso, e teve um pico epidêmico precoce, muito antes do Sul e do Sudeste. É preciso pensar que ali é Zona Franca, com um fluxo enorme de pessoas. O que aconteceu foi que a Covid-19 chegou, atingiu uma grande proporção da população de baixa renda e causou aquela tragédia de túmulos em cemitérios sendo abertos a toque de caixa. O Amazonas nunca tomou medidas drásticas de fechar escolas, comércio ou fazer lockdowns", ressaltou.

Dalcomo comentou ainda, que a situação só se agravou mais no Amazonas devido a desídia administrativa. Ela questiona o fato de uma cidade como Manaus ter um único fornecedor de oxigênio, sabendo que a logística de entrega é muito complexa.

"Porque quem morre no Amazonas é pobre e indígena. A classe média alta foi embora se tratar nos hospitais do Sudeste. A quantidade de jatos privados que foram alugados por 150 mil reais em Manaus para trazer pacientes para o Rio de Janeiro e São Paulo é enorme e isso está registrado", finalizou.

 


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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