Jovem morto por leoa em João Pessoa deixou carta natalina pedindo 'carinho de mãe'
Pouco antes de morrer ao invadir o recinto de uma leoa no Parque Zoobotânico Arruda Câmara, em João Pessoa, o jovem Gerson de Melo Machado, de 19 anos, deixou registrado em uma carta de Natal um pedido simples: felicidade, carinho da mãe e a oportunidade de ter um emprego. O conteúdo foi divulgado pela conselheira tutelar Verônica Oliveira, que acompanhou parte da trajetória do jovem.
Intitulada “Desejo do Coração”, a carta foi escrita quando Gerson ainda era adolescente e estava internado em uma unidade socioeducativa. No texto, ele expressa fé de que um dia teria uma vida melhor e encerra desejando “um feliz Natal e um próspero ano novo”. Segundo Verônica, o jovem não pediu bens materiais, mas demonstrou carência afetiva profunda e esperança de reconstrução, apesar de uma história marcada por abandono, pobreza e transtornos mentais.
Diagnosticado tardiamente com esquizofrenia, Gerson teve a guarda retirada da mãe — que também enfrenta a doença — e passou por diversas instituições ao longo da juventude. Ele foi apreendido dez vezes quando menor de idade e preso outras seis já na fase adulta, principalmente por furtos e danos. De acordo com a conselheira, o jovem costumava dizer que se sentia mais seguro em locais onde estava sob custódia do Estado, o que ela classificou como “pedidos de socorro” ignorados ao longo do tempo.
Após a morte do rapaz, a administração do parque manteve o espaço fechado por mais de duas semanas para revisão de estruturas, protocolos e rotinas de segurança. A reabertura ocorreu de forma parcial e controlada, com limite de visitantes, reforço da vigilância, novas sinalizações e mudanças no acesso às áreas dos animais. A leoa envolvida no ataque passou por monitoramento contínuo e teve o manejo ajustado, segundo a direção da Bica, que afirmou que a eutanásia nunca foi considerada.
A Polícia Civil da Paraíba apura o caso, inicialmente tratado como fatalidade. Imagens mostram que o jovem escalou muros e grades até acessar o recinto do animal, apesar de alertas de pessoas que estavam no local. Para investigadores, não há indícios de que ele pretendesse tirar a própria vida, mas sim de que não teve plena noção do perigo, em razão do comprometimento psiquiátrico. A carta deixada por Gerson, agora tornada pública, reacendeu o debate sobre saúde mental, abandono social e falhas na rede de proteção a jovens em situação de vulnerabilidade.
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