Beneficiários do Bolsa Família movimentaram R$ 3,7 bilhões em apostas online
O Tribunal de Contas da União (TCU) identificou movimentações suspeitas envolvendo beneficiários do Bolsa Família em sites de apostas online. Segundo relatório baseado em dados do Banco Central, apenas em janeiro deste ano, cerca de R$ 3,7 bilhões foram transferidos de contas de pessoas cadastradas no programa social para administradoras de apostas, o que representa até 27% dos recursos recebidos por esse público. O levantamento, no entanto, aponta que 83% dos beneficiários possuem outras fontes de renda.
De acordo com o ministro Jhonatan de Jesus, relator do processo, a concentração das apostas é outro ponto de alerta: apenas 4,4% das famílias foram responsáveis por 80% do valor total transferido. O TCU suspeita que parte dessas transações possa envolver o uso indevido de CPFs de beneficiários por terceiros, possivelmente para lavagem de dinheiro ou ocultação de ganhos ilícitos. Os casos foram encaminhados ao Coaf, à Receita Federal e ao Ministério Público Federal para investigação.
O relatório mostra discrepâncias entre o perfil de renda e os valores movimentados. Em janeiro, uma família chegou a transferir R$ 2,1 milhões em um único mês, e outras 663 famílias enviaram valores entre R$ 100 mil e R$ 1,4 milhão. Entre as 20,3 milhões de famílias atendidas pelo programa, 4,4 milhões realizaram apostas, sendo que 889 mil concentraram 78% do total das transferências. O TCU estima que o comprometimento real de recursos do benefício foi de R$ 162 milhões, equivalente a 1,1% dos gastos do programa em dezembro de 2023.
Apesar de o estudo indicar que a maioria dos beneficiários apostou menos de 2% da renda mensal, os auditores destacam indícios de endividamento e uso irregular de cadastros. Diante dos resultados, o TCU determinou que o Ministério do Desenvolvimento Social e o Banco Central apresentem, em até 90 dias, um plano de ação para identificar e coibir fraudes no Bolsa Família, reforçando os mecanismos de controle sobre as movimentações financeiras dos beneficiários.
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