Wilson Lima era um bom ator no Alô Amazonas. Como governador interpreta mal
- O governador Wilson Lima repete exaustivamente que “vivemos um cenário de guerra”, uma guerra que seu governo está perdendo e da qual as vítimas são cidadãos amazonenses pelos quais ele parece ter perdido o respeito.
A mensagem lida pelo governador do Amazonas, Wilson Lima, nesta terça-feira, na reabertura dos trabalhos da Assembleia Legislativa, foi um conto de ficção. Em meio a crescente mortandade pela segunda onda de coronavírus, que seu governo não conseguiu prever e nem conter, Wilson fala que ampliou a rede de saúde, ofereceu mais leitos de UTI e investiu no aparelhamento dos hospitais no interior. O que não disse, nem era necessário diante dos 8.414 óbitos registrados até aqui pela pandemia ou em consequência dela, inclusive por asfixia, é que fracassou.
O governador repete exaustivamente que “vivemos um cenário de guerra”, uma guerra que seu governo está perdendo e da qual as vítimas são cidadãos amazonenses pelos quais ele parece ter perdido o respeito, à medida que comprou respiradores superfaturados, segundo a Procuradoria Geral da República; à medida que não previu que haveria escassez de oxigênio, inclusive no interior do Estado, onde a Justiça teve que obrigá-lo a transferir pacientes para Manaus e outros Estados.
Além de Manaus, onde dezenas de pessoas morreram asfixiadas pela falta de Oxigênio, Coari contabilizou 20. Outros tantos foram a óbito pela mesma razão em hospitais de municípios ao longo da fronteira do Estado com outros países. Onde o aparelhamento da rede pública de saúde? Em que sentido ? O governador improvisou demais, subestimou os constantes alertas de epidemiológicas de que haveria o risco de uma segunda onda. Além de ignorar essa advertência, revogou medidas de distanciamento social.
Ontem, esperava-se mais de Wilson: que ele admitisse que o Estado fez um esforço, mas que não foi suficiente; que seu governo está trabalhando para conter a pandemia, que vai comprar vacinas porque há dinheiro para isso. Mas o que ele fez ? Buscou dividir a criminosa omissão com o ex-prefeito de Manaus, Arthur Neto - o primeiro a tomar medidas de distanciamento social e a montar um hospital de campanha. Que alertou o governador a ser mais rigoroso.
Wilson tem uma trave nos olhos. Tinha uma visão melhor quando era um simples apresentador de TV, que lia tudo o que estava escrito por seus manipuladores no teleprompter. Agora ficou medroso: desistiu de última hora de participar do programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, porque sabia que seria emparedado e possivelmente não resistiria as verdades que surgiriam e sobre as quais não há como se defender.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.