A verdade sobre o hospital de campanha e os anti-heróis da Covid
A covid continua matando, mas virou estrela da campanha eleitoral em Manaus. Enquanto os óbitos crescem - foram 13 registrados nas últimas 24 horas - um candidato se apropria de um hospital de campanha onde houve forte investimento público. É fácil fazer filantropia utilizando recursos da sociedade. Transformar um bem público, submetido a um regime jurídico de direito público, em privado, se deixou de ser crime, seja para a justiça comum, seja para a justiça eleitoral, é um grave desvio moral e ético. Ainda que formalizada a parceria público - privada, como se imagina pode ter acontecido, ainda assim utilizar na campanha um bem compartilhando com recursos da sociedade é una infração gravíssima, ao menos do ponto de vista da legislação eleitoral.
Quanto a questão do uso eleitoral do hospital privado, da família do candidato, há distorção também grave na sua utilização como peça fundamental no combate à covid. Não tem esse mérito um plano de saúde, que - é o que representa o grupo - cobrava R$ 50 mil de caução para internar um paciente.
Quem fez o dever da casa, apesar de toda trapalhada do governo estadual, foram os hospitais públicos, as brigadas de médicos e enfermeiros Estes sim, salvaram vidas. O resto é demagogia, surfar na dor e na miséria das famílias que perderam seus ente-queridos porque não tinham como pagar a internação para uso de cápsulas que em tese substituiriam com eficiência, os respiradores.
Ademais, a pandemia está aí na sua segunda onda. E onde está o hospital de campanha, desativado pelo grupo do candidato a pretexto de que o vírus tinha sido derrotado?Deixar de reconhecer também a parceria com a prefeitura de Manaus é outra distorção. O investimento do município no hospital de campanha foi de R$ 14 milhões, em pagamento de pessoal técnico - médicos, enfermeiros, máquinas e equipamentos. Os dados estão na tabela acima e desmontam a tese do homem que fazia milagres sozinho.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.