Uma Manaus que não dorme e a operação da Polícia Federal
A noite de quarta-feira nem havia começado e rumores já se espalhavam pela cidade. “Amanhã os meninos vão estar nas ruas”. Era a senha para mais uma operação da Polícia Federal. Nada além de rumores, que se concretizaram ao amanhecer. O centro da operação era o Acre, mas endereços foram "visitados" em Manaus e um empresário preso.
Um terço da cidade não dormiu, mas terminou esta quinta-feira aliviado, como se todos guardassem um grande segredo.
A Polícia Federal não age por si mesma, executa decisões judiciais, porém é nela o foco de todas as atenções.
Os alvos sempre são políticos e empresários, quando não juízes e até mesmo policiais envolvidos em corrupção.
Apesar de todos os mecanismos de controle - e são muitos - recursos públicos ainda são desviados e sempre serão, porque por mais aprimorado que seja o sistema, as pessoas não se contentam com o que é delas. Sempre estão desejando mais e o poder lhes confere facilidades e oportunidades que os mais “honestos” não têm.
Mas não dá para concordar com o inesquecível Millor Fernandes( 1923-2012), que em uma de suas colunas no semanário o "Pasquim" e na revista "O Cruzeiro", já extintos, deixou muita gente “honesta” pensativa: "devemos sempre deixar bem claro que nenhum de nós, brasileiros, é contra o roubo. Somos apenas contra ser roubados“.
Millor viveu em um tempo em que era normal as pessoas dizerem que determinados governantes roubavam, mas trabalhavam e apresentavam resultados.
O que mudou? Surgiram os órgãos de controle, mas como a corrupção é endêmica, aqui e ali espoca um escândalo. Até a PF, para enfrentar a corrupção, muitas vezes é obrigada a cortar na própria carne…
O exemplo mais marcante foi a prisão de Newton Ishil, em 2016. Ele ficou conhecido como “o Japonês da Federal”. Era o agente que conduzia pelo braço os presos da Operação Lava Jato. Ishil foi acusado, preso e condenado por facilitar a ação de contrabandistas. Um duro golpe na imagem da Polícia Federal...
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.