Preço da gasolina embute uma coerção ao direito de ir e vir. E é intencional
Não são apenas políticas de exceção, de coerção e de suprimento de direitos fundamentais que ameaçam a liberdade no Brasil. São fatores econômicos - o desemprego, a inflação, a incapacidade de colocar combustível no carro ou de pagar por uma passagem de ônibus. No caso do preço da gasolina, é um abuso intencional ao direito de locomoção.
O direito de ir e vir é ameaçado quando falta emprego, dinheiro para comprar alimentos, manter a família, se deslocar de um lugar para o outro em razão da incapacidade de manter o custo desse deslocamento.
Reivindicar um Estado de Bem Estar Social - como fazem alguns congressistas hoje - quando o país vai mal, arrecada mal, distribui mal a riqueza, patina nas políticas públicas - apenas adiciona ingredientes no caldo de insatisfações que em algum momento deve atingir uma temperatura explosiva.
A insatisfação é geral - a gasolina, por exemplo, não é apenas um combustível exposto em um posto onde o produto é oferecido. Atualmente ela significa parte dessa liberdade suprimida do cidadão, na medida em que ele não consegue abastecer o seu carro e se dirigir ao emprego ou levar o filho à escola.
Seu custo, anabolizado por impostos escorchantes, subtrai o direito fundamental de ir e vir, aprisiona famílias em guetos, rouba-lhes a esperança e o emprego, o convívio com os amigos.
Onde vamos parar? E como mudar um cenário tão devastador ?
Não dá para ser feliz em um país que nega aos cidadãos o direito de ir ao trabalho, de bater o ponto sem atraso, de cumprir suas obrigações, de pagar por uma passagem de ônibus, de trocar a geladeira, de sair com os filhos no final de semana, porque o carro tornou-se um espiral de sonhos - não o Mercedes, mas o velho Volkswagen ou a moto - instrumentos pelos quais se rompe a fronteira do bairro onde moramos e ganhamos a estrada, ainda que seja para olhar da beira do barranco as favela lá embaixo, onde outros cidadãos se espremem e sofrem, prisioneiros de sonhos perdidos, esquecidos, famintos, desesperados.
E pensamos que um dia eles subirão aquele barranco e darão seu grito, ou descerão os morros em protesto.
Que País é este? Que democracia é essa, onde os cidadão não falam ? As instituições funcionam, dirão alguns. Mas funcionam para quem ?
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.