PF 'muda', imprensa tonta e leitor sem informações
A Polícia Federal no Amazonas tem feito um bom trabalho, mas erra ao sonegar informações à imprensa. Nesta terça-feira deflagrou a operação "Sem Sabor", onde os alvos eram empresas e agentes públicos acusados de fraudar licitação e desviar recursos destinados à aquisição de kits da merenda escolar em Manaus.
A imprensa, tonta, correu atrás dos nomes - de empresas, de funcionários públicos e da gestão onde o ilícito foi cometido. Mas ficou literalmente "Sem Sabor".
A PF pode até seguir norma que impede a divulgação de nomes - mas ao afirmar que há fornecedores e agentes públicos envolvidos coloca sob suspeita todos os fornecedores, íntegros ou não, e joga na mesma cesta de lixo todos os funcionários públicos, contaminados pela informação sonegada e pela ação de um ou dois servidores.
Pior, coloca uma administração, que teve suas falhas, mas se ateve a um padrão ético que pode de alguma forma e sem consentimento de sua liderança, ter sido rompido, sob grave suspeita.
Curiosamente, o comportamento da Polícia Federal em São Paulo ou Rio é outro: transparente, objetivo, respeitoso com a imprensa ao não deixar dúvida sobre quem é investigado, quem é preso e quem é alvo de busca e apreensão.
Nesta terça-feira, em São Paulo, a PF deflagrou a operação contra lavagem de dinheiro, por meio das fintechs associadas à facção PCC . A PF não deu apenas nomes - do policial civil Cyllas Elia Júnior, cita até mesmo o InvBank, supostamente associado ao Primeiro Comando da Capital.
Quer dizer, há muita informação fornecida pela PF, o que ajuda a informar melhor. E o papel da imprensa é esse, informar bem, o que não vem ocorrendo quando se trata de operação que a mesma polícia executa em Manaus. O que é lamentável.
ASSUNTOS: fraudes em licitação, Manaus, Merenda escolar, Operação, policia federal
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.