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Outros tempos, outros carnavais


Por Raimundo de Holanda

11/02/2024 20h46 — em
Bastidores da Política


  • As marchinhas de carnaval eram inteligentes. Exploravam o que o ser humano tinha de melhor: amor, paixão, sonhos, desejos: ...“Ó abre alas/Que eu quero passar/ Ó abre alas/Que eu quero passar”

Eu vim de outros carnavais e o mundo era diferente. As cantadas não eram assédio e o namoro rolava durante e depois da banda passar. Os homens eram mais livres e as mulheres menos frescas. Os direitos eram iguais, apesar de na vida real  elas tivessem menos oportunidades, mas não perdiam a graça  nem a compostura. Eram como deusas chamando para si o mundo. Não mostravam tudo como hoje, mas mostravam o caminho de segredos para os quais os homens eram desafiados e desvendar.

Era 1975 e, apesar de ter sido proibido 14 anos antes, o lança perfume chegava clandestinamente, destravando emoções reprimidas.

Confetes e serpentinas coloriam as ruas e as máscaras davam o tom de mistério que envolvia beleza, sedução, desejos que explodiam a partir de um beijo roubado. Depois, eram quatro paredes que abafavam todas as dores e gemidos do mundo.

As marchinhas de carnaval  eram inteligentes.  Exploravam o que o ser humano  tinha de melhor: amor, paixão,  sonhos, desejos:

...“Ó abre alas/Que eu quero passar/“Ó abre alas/Que eu quero passar”

E a gente ia, levado pela emoção, empurrado pelo suor de outros corpos. O tempo era outro...

“Allah-lá-ô, ô ô ô ô ô /Mas que calor ô ô ô ô ô ô”

A marchinha dizia uma coisa, e o pessoal ia no rumo diferente, com garrafa na mão, mas cantando.

“Você pensa que cachaça é água?/ Cachaça não é água não”

Era carnaval, belo, inesquecível, como nunca mais vi...

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.