Os culpados pelo crescimento da violência em Manaus
Manaus não lidera em número de homicídios, como alguns sites divulgaram nesta terça-feira, com base em tabela propositalmente modificada ao ser retirada do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Mas já é uma tragédia ficar na terceira colocação entre as capitais com maior incidência de mortes violentas, perdendo para Macapá e Salvador.
É precipitado apontar culpados por um problema crônico, que não começou agora nem vai terminar amanhã. Vem crescendo na esteira de sucessivos governos focados em projetos de desenvolvimento que ou não saíram do papel ou fracassaram. O resultado foi o desperdício ou desvio de dinheiro público e o crescimento da pobreza.
Essa forma de governar de costas especialmente para amazonenses que residiam no interior, provocou nos últimos 50 anos uma onda de migração sem precedentes de famílias para Manaus, com o número de invasões de terras aumentando, enquanto a cidade crescia desordenadamente.
O Estado nunca esteve onde deveria estar. Quem chegava a procura de emprego não tinha as credenciais exigidas pelo mercado de trabalho.
Todo esse ambiente de pobreza, de degradação do ser humano, de desprezo pelos menos favorecidos acabou criando esse caldo de violência que se reflete hoje em números assustadores, estimulado pelo tráfico de drogas, pelo aparecimento de um Poder Paralelo que para essas pessoas é maior do que o Estado, porque em certa medida e sob condições de privação da liberdade, acaba lhes oferecendo a ilusão da segurança e de futuro.
Mas é uma “bondade” condicionada e a um preço muito alto: a permissão dos pais para que seus filhos menores ingressem nessas organizações criminosas como soldados.
Este é o cerne do problema dessa guerra urbana que mata mais de 1.200 pessoas por ano em Manaus. E é um número que tende a crescer, enquanto os governantes continuarem pensando apenas em si mesmos ou mantendo o velho conceito de que segurança pública se resume em armar a polícia ou contratar mais policiais, partindo ou simulando uma guerra que, convenhamos, o Estado, como conhecemos, não tem a mínima intenção de ganhar. Ou não abdicaria de espaço urbano, bairros inteiros para domínio dessas organizações.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.