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O pôr do Sol e o delator mascarado e sem nome


Por Raimundo de Holanda

15/12/2021 18h53 — em
Bastidores da Política



Estava olhando o pôr do Sol nessa tarde molhada. Gosto do final dos dias de inverno, quando as cigarras cantam seguidas de um silêncio embrulhado pela noite que chega prematura, logo rasgada  pelas luzes da cidade. Como é bom perceber que a vida continua, que o amanhã é possível.

O telefone toca. É um amigo com a mensagem: "vê esse vídeo!”. Não quero perder a magia do pôr do Sol engolido pelo rio, nem o canto dos periquitos enlouquecidos sobre a mangueira. Mas isso  não é o meu normal.

Sou agitado e fico apreensivo. O que será? O que estará contido no vídeo? Lembraram de mim? Já  haviam me esquecido faz tempo e gosto disso, gosto do anonimato e da  distância das intrigas e do ódio.

Paro e abro o vídeo, a Internet falha, insisto e finalmente aparece um homem mascarado falando de corrupção no governo do ex-prefeito Arthur Neto. O vídeo é tóxico, parece uma idéia plantada  e quebra a magia daquele instante, me  transportando para o mundo real, de mentiras, trapaças, traições.

O homem fala sem parar, como se lesse o texto  em um teleprompter. O video acaba e fico triste, pensativo.

Não perdi o dia encantador, mas ficou a sensação de que a verdade está morrendo, que a mentira tende a prevalecer porque é veloz e porque a verdade é o chão que se pisa e nos dá equilíbrio, mas não o vemos antes que nos atirem no precipício. É do chão molhado que nascem as flores e ficam os passos que marcam nossa caminhada.

Mas agora há lama produzida em escala industrial. Uma lama feita para apagar a verdade, confundir, enganar, sufocar.

Coloco o celular no bolso, mas sou envolvido por  uma grande vontade de me livrar dele, do veneno que carrega.

Olho  para o horizonte e o Sol  já desapareceu, como se levasse com ele a esperança de dias melhores.

Amanhã voltará e se recolherá mais tarde. Isso nunca muda. Mas há noites que  não passam para os que se alimentam das sombras e das sobras…

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.