O poder assustador dos evangélicos e os doutores da Lei
O Brasil tem 60 milhões de evangélicos e eles estão mobilizados para fazer de André Mendonça ministro do STF. Pela primeira vez na história do Supremo Tribunal Federal abriu-se uma surrada cortina revelando a ação explícita de grupos de interesse dispostos a influenciar em decisões da Corte. As coisas nunca foram diferentes, mas havia o cuidado, uma certa decência no comportamento desses grupos com larga influência no Senado Federal. Eles, sempre eles, pautavam as sabatinas dos indicados. Com a resistência ao nome de André Mendonça, caíram as máscaras.
O poder religioso entrou em ação. Mendonça é o nome “terrivelmente evangélico, termo cunhado pelo presidente Bolsonaro, que o indicou a partir desse mérito. Com ele o Supremo não vai se tornar o Sinédrio, nem Mendonça vai ocupar a 11a cadeira para interpretar o que ensina a Bíblia. Vai estar lá para colocar a Constituição onde Bolsonaro diz que estaria o livro sagrado: embaixo do braço.
Mendonça penou até agora 133 dias desde sua indicação pelo presidente. E isso o desgastou profundamente. Como um bom bolsonarista, não desistiu. Mas com essa obsessão desgasta também um STF, onde inevitavelmente chegará pela pressão dos evangélicos sobre os senadores.
Afinal, 2022 é ano de eleição e um terço do Senado será renovado. No Amazonas, o senador Omar Aziz tentará a reeleição. No Estado, Mendonça leva os votos tanto de Omar quanto de Eduardo Braga - este, candidato ao governo - e Plinio Valério, graças as conversas que o senadores vêm mantendo com o deputado Silas Câmara.
Mas Mendonça terá primeiro que passar pelo crivo da Comissão de Constituição e Justiça, onde será “sabatinado”. Vai passar…O que não passará é a impressão que fica, de que tudo no Brasil tem vícios, até a indicação de um ministro para a Suprema Corte. Que País é este ?
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.