O dia em que assassinatos na rede hospitalar de Manaus foram revelados
Esta segunda-feira vai entrar para a história como o dia em que a 'eutanásia' foi revelada como antídoto para a incapacidade de curar uma doença na rede pública de saúde de Manaus. O dia em que permitir que a morte se apoderasse de um corpo deixou de ser assassinato. O dia que a asfixia por falta oxigênio levou as lágrimas uma médica e nossos olhos reaprenderam a chorar.
O dia que nossa humanidade foi testada. O dia no qual nossas esperanças desvaneceram, porque a vida perdeu seu valor, porque a morte ou a vida são seletivas na rede hospitalar, porque nunca, como agora, nos sentimos tão sós, tão abandonados, tão entregues à própria sorte.
Quem disse que eutanásia é produto da omissão ou da falta de socorro? Eutanásia é a morte assistida e indolor de um paciente que não quer viver. O que a médica chamou eufemisticamente de eutanásia, eu chamo de assassinato.
VIOLÊNCIA, FOME E ESTUPRO
Estou em casa como tantos outros que podem estar em casa, alimentado e trabalhando. Mas em torno de minha casa, na favela, há fome e choro, briga por pão, estupro e violência. E há doentes por Covid, que não morrerão por '"eutanásia", nem pelo virus, mas pela fome. E ninguém faz nada. Absolutamente nada.
Há um silêncio cúmplice que incomoda - silêncio dos que podem fazer mais e nada fazem.
Se o prefeito da cidade, David Almeida, não sabe fazer uma lista de pessoas vacinadas contra a Covid 19, como exigem os órgãos de controle, não está preparado para governar.
Se o governador do Estado. Wilson Lima, deixa faltar oxigênio e cria uma.crise humanitária, não está preparado para o exercício do poder.
E o que nós fazemos? Nada. Nos tornamos cúmplices dessa tragédia que leva nossos pais, nossos filhos, nossos melhores amigos. Ficarmos inertes até quando? Ou optamos morrer pelo vírus ?
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.