Mayra tem desempenho bom na CPI, blinda Bolsonaro e expõe autoridades do Amazonas
Os senadores provavelmente não esperavam que a médica Mayra Pinheiro, secretária do Ministério da Saúde, fosse tão bem preparada para a audiência desta terça-feira. Não houve nada que não respondesse, com a convicção de quem fala a verdade, seja a verdade objetiva, seja a "verdade" criada para defender um projeto de governo insano, que resultou em tantas mortes…
Se não convenceu os senadores e parte da opinião pública, saiu da sessão ovacionada por bolsonaristas nas redes sociais. Pontuou, de certa forma, positivamente.
Se mergulhou no submundo do inferno no qual se transformou a rede pública de saúde do Amazonas - como afirmou e foi questionada pelo senador Omar Aziz - o que fez então para minimizar o problema? Mayra tinha resposta: a rede de saúde do Estado e do Município não funcionava, havia desordem, caos absoluto, desencontros que só não resultou em uma tragédia maior porque o Ministério da Saúde fez a sua parte.
Faltou aos senadores perguntar - embora não competisse à Mayra responder, mas era relevante questionar - por que não houve intervenção federal na saúde do Amazonas? Ou se ela, naquele momento, era defensora dessa medida extrema em razão do óbvio desastre anunciado.
Mayra pode, em algum momento, ter jogado responsabilidades sobre o ex-ministro Eduardo Pazuello. Mas o fez inadvertidamente. Divergiu de datas em relação a crise de oxigênio, apenas. Enrolou ao falar do Tratcov, trazendo para a sua secretaria toda a responsabilidade pelo uso e retirada da plataforma do ar.
Negou que tenha havido hackeamento, mas não soube explicar as razões pelas quais a plataforma, ou um protótipo como ela mesmo afirmou,"essencial para salvar vidas em Manaus", pois aqui “experimentada", foi deixada de lado pelo Ministério.
Indagada pelo senador Omar Aziz, presidente da CPI, ela tergiversou.
Mas, também, ao expor a independência com que trabalhava, reforçou a impressão de que o Ministério da Saúde não tinha comando, que Pazuello era apenas uma espécie de "Rolando Lero" da Escolinha do Professor Bolsonaro, perdido numa pasta sobre a qual ele nada sabia, nada conhecia, sem coordenar ações, sem definir estratégias, sempre a reboque do chefe-presidente.
A missão de Mayra era blindar Bolsonaro. De certa forma, conseguiu.
Fez bem o senador Eduardo Braga(MDB-AM), ao ler o currículo da médica e ao indagá-la sobre pesquisa e estudos de medicamentos durante sua formação acadêmica. E o fato de não caber a ela, por não ser especialista, a defesa de antivirais não recomendados para a Covid.
Mayra respondeu, sem convencer e mais adiante, preferiu calar quando o senador mostrou que ela não tinha base cientifica para defender o uso de cloroquina.
Vão dizer muita coisa de Mayra nas redes sociais e na imprensa dita profissional, mas ninguém pode negar que tinha completo domínio da secretaria do Ministério da Saúde e, certa ou errada, executou um projeto escrito e repetido pelo presidente Bolsonaro com invejável competência. Para o bem ou para o mal ….
Aliás, se alguma coisa disse ao depor na CPI que contrariou o presidente foi apenas o fato de que defende, ao menos na versão dada aos senadores, o uso de máscaras, o distanciamento social e outros protocolos destinados a evitar a proliferação do vírus. O chefe-presidente não deve ter gostado…
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.