Manaus era assim…e apesar de tudo havia sonhos e esperança
Manaus nunca foi um paraíso. Nos velhos tempos faltava café, açúcar, leite e pão. Faltava porque tudo chegava de navio e atrasava. Havia filas em tomo das moageiras de café e trigo. Os únicos meios de comunicação eram jornal e rádio. E as noticias falsas já circulavam largamente. Não são, portanto, uma novidade. A diferença era que não havia checagem. O público engolia o que lia e ouvia. E já havia denúncia de corrupção. A cidade chegou a ser bombardeada em 8 de outubro de 1910.
Houve combate na avenida Sete de Setembro numa tentativa de derrubar o governador da época, Antônio Bittencourt.
Era um tempo de pandemia, como hoje: malária, tuberculose e varíola dizimavam grande parte da população. Gente morria nas ruas sem socorro.
Mais de um século se passou e algumas coisas mudaram para melhor. A cidade cresceu, as distâncias dos centros produtores foram reduzidas, a comunicação mudou, interligou o mundo, a ciência produziu vacinas. Mas Manaus se tornou caótica, o crime ganhou forma, estrutura, se organizou, ocupou espaço e estabeleceu suas próprias regras.
O Estado falhou onde não podia falhar, recuou onde não podia recuar, cedeu terreno a um poder paralelo que na atividade (consentida ou não) trafica; na impossibilidade de traficar coloca seus soldados nas ruas para roubar, fazer dinheiro, se capitalizar.
Isso explica os assaltos, os roubos, a ousadia de ataques a carros da polícia, a bancos, a empresários. E o crime não para. Não vai parar porque em grande parte o Estado perdeu espaço e minou a confiança de cidadãos confinados em zonas vermelhas.
E vai piorar porque o país, antes pacato, radicalizou.
Estamos entrando numa fase crítica, de radicalismo e de violência talvez nunca vistos na história. E nem o Estado do Amazonas nem o País estão preparados para enfrentar os desafios que estão por vir, ou evitar as tragédias anunciadas…
Apesar de tudo, o passado prenunciava o futuro, o hoje. Mas o hoje não prenuncia um amanhã sem sombras, um amanhecer de sol e de esperança, porque tudo parece absolutamente caótico e indecifrável.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.