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Julgamento de Moro: Justiça degradada, imprensa rendida. Que país é este?


Por Raimundo de Holanda

09/03/2021 19h44 — em
Bastidores da Política


  • Se o ex-juiz Sérgio Moro “pulou o balcão, ao gerenciar efeitos extraprocessuais na exposição midiática dos acusados”, como disse o ministro Gilmar Mendes, em que ponto o jornalismo que se autoproclama “profissional” foi conivente com um estado de coisas que afrontava a ética, alimentando uma narrativa contaminada pela fraude processual? Moro só foi longe demais porque a grande mídia se aliou ao grupo de Curitiba, rendeu-se aos “furos” combinados com procuradores da Lava Jato. Quis fazer de Moro um Mito, produziu Bolsonaro.

O dia terminou nesta terça-feira com uma exposição degradada da justiça brasileira, que ainda não se conhecia integralmente. Não foi  apenas o ex-juiz Sérgio Moro que começou a  ser  julgado na 2a Turma do  Supremo Tribunal Federal, mas o próprio Judiciário, em diversas instâncias, que convalidou atos do juiz que agora são apontados como autoritários, causadores de “um estado hediondo policialesco”. Um “estado” que vigorou à sombra do próprio Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, enquanto permaneceu em Curitiba.

O CNJ rejeitou por diversas vezes denúncias contra Moro, representações de suas supostas vítimas que alegavam parcialidade no julgamento dos processos. Ninguém viu, antes, que  Moro "instrumentalizava o processo penal, deturpava os valores da justiça e violentava  garantias constitucionais“, como alega o ministro Gilmar Mendes?

A ministra Camem Lúcia, que na sessão desta terça-feira utilizou a expressão “gravíssimo” , quando Gilmar Mendes relatou as escutas ilegais realizadas em escritórios de advogados,  é a mesma  Carmem Lúcia que em 2018 rejeitou pedido de habeas corpus para Lula, com base nos argumentos hoje em parte acolhidos pela 2a Turma, da qual faz parte. Por que o susto? O que mudou, ministra?

Mas se o ex-juiz Sérgio Moro “pulou o balcão, ao gerenciar efeitos extraprocessuais na exposição midiática dos acusados”, como disse Gilmar Mendes, em que ponto o jornalismo que se autoproclama “profissional” foi conivente  com  um estado de coisas que afrontava a ética, alimentando uma narrativa  contaminada pela  fraude processual? Onde estava o jornalismo investigativo, que só viu um lado de uma questão  que mudava a história do país, que produzia Bolsonaro, que alimentava o radicalismo, que minava a justiça, comprometia e economia, afundava o Brasil ?

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.