CPI da Covid, se instalada, pode engolir Wilson Lima e o general Pazuello
- O alvo da CPI é Bolsonaro e sua reiterada aliança com o vírus. Provavelmente, se acuado, vai jogar a culpa no general Eduardo Pazuello, que apontará o dedo para Wilson Lima, o governador do Amazonas. No centro das discussões uma pergunta: o Amazonas exportou a variante que predominava no Estado e que depois explodiu em todo o País?
A CPI da Covid, se não for represada pelo conhecido corpo mole dos senadores, pode afetar não apenas o Executivo federal e estadual, mas o Judiciário. A razão é simples: foram inúmeras as determinações judiciais para a transferência de doentes do Amazonas para outros Estados. Na prática, isso contribuiu para exportar a variante que predominava especialmente em Manaus, e que foi dominante na explosão de casos um mês depois em todo o Brasil.
Advertência não faltou, nem criticas ao ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que em janeiro advertia: "sem protocolos de biossegurança essa transferência, sem os cuidados necessários, vai espalhar o vírus pelo País”. Mandetta foi muito criticado por essa declaração, mas acertou na mosca.
Evidentemente que alguma coisa precisava ser feita, mas transferir pacientes infectados não foi a melhor saída. O preço que o País paga agora é muito alto.
O Ministério da Saúde deveria ter concentrado todos os esforços disponíveis no Amazonas, isolando o Estado, fechando portos e aeroportos, mas trazendo para Manaus todo o conhecimento disponível, todo o pessoal especializado, todos os insumos possíveis. Era a melhor forma de conter o vírus, salvar vidas e ao mesmo tempo impedir que a variante fosse espalhada país a fora.
Nenhum protocolo sanitário nas transferências de pacientes com Covid 19 para outros Estados. Só pressa e mortes.
O alvo da CPI é Bolsonaro e sua reiterada aliança com o vírus. Se acuado, vai jogar a culpa no general Eduardo Pazuello, que apontará o dedo para Wilson Lima, que inevitavelmente estará entre os governadores investigados.
Pazuello já havia dito em uma de suas viagens a Manaus, no auge da pandemia: “Tudo o que o governador (Wilson Lima) pediu foi feito. O Ministério acompanha e apoia a ajuda ao Estado, mas as ações estão a cargo do prefeito e do governador, não do Ministério da Saúde”.
É pouco? Vem bomba por aí. E com grandes explosões, que inevitavelmente desenterrarão o caso dos respiradores superfaturados e as mortes por asfixia nos hospitais de Manaus.
O governador do Amazonas é a parte mais frágil dessa história. Se não se cuidar, pode ser engolido nessa CPI…
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.