A condenação de mulheres à morte em nome de Jesus
- Fala-se muito em feminicídio - que é o crime quando o homem mata a mulher em casa, por ciúmes ou outros motivos. Mas o que os senadores e deputados estão fazendo não é diferente...
- O projeto de Lei 1.904, que equipara o aborto em casos de estupro com mais de 22 semanas a crime de homicídio, é uma faca na garganta das mulheres, um revólver que mira a sua individualidade, o seu direito ao próprio corpo.
- Quem vai condenar deputados e senadores por esse crime, que eles praticam em nome de Jesus?
Se há um direito que a mulher tem e sobre o qual não cabe sequer contestação, revisão por um Poder Legislativo predominantemente masculino, é o de abortar fetos gerados por estupro.
Fala-se muito em direito das mulheres - e considero até alguns excessivos, pois colocam o homem na posição de cidadão de segunda classe, e têm resultado em centenas de injustiças - mas o corpo é dela, as consequências de uma gestação indesejada são carga que ela carrega. O risco de morte é imenso.
Nós homens - nós porque sou homem como qualquer deputado e senador - somos hipócritas. Não admitimos para os outros o que faríamos por nossas filhas - se vítimas de violência sexual.
Qualquer penalidade, como propõe o projeto de lei que "objetiva equiparar aborto após 22 semanas de gravidez, como crime de homicídio, inclusive casos procedentes de estupro para as mulheres que abortam" - é um ato contra a vida e contra a cidadania.
Contra a vida porque o risco é todo da mulher.
Contra a cidadania porque uma criança indesejada não terá afeto, não terá amor e não conseguirá se enquadrar a uma sociedade cheia de preconceitos.
Fala-se muito em feminicídio - que é o crime quando o homem mata a mulher em casa, por ciúmes ou outros motivos. Mas o que os senadores e deputados estão fazendo não é diferente ao buscarem por vias "legais!" submeter a risco de morte centenas de milhares de mulheres, na medida em que elas vão procurar formas artesanais de fazer o aborto.
Quem vai condenar deputados e senadores por esse crime, que eles praticam em nome de Jesus?
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.