Amazonas, a riqueza, as pedradas e o interesse público contrariado
Quando os judeus tentaram agredir a mulher acusada de adultério, Jesus a defendeu fazendo um desafio à multidão: “aquele que não tiver pecado que atire a primeira pedra”. Era um tempo no qual havia a consciência de culpa e as pessoas, por sabedoria ou não, se recolhiam para preservar seus segredos. Mais de dois mil anos se passaram. Num Estado prostituído como o Amazonas, as culpas nunca são admitidas e as pedras são jogadas em meio a um cinismo que esconde interesses contrariados.
O que vem sendo colocado atualmente em forma de denúncia por grupos políticos, de mídia e empresarial não visa preservar o interesse público, clara e sistematicamente violado ao longo de meio século. Embora esse objetivo - que não é a razão das denúncias - possa ser alcançado pela ação dos órgãos de controle, fartamente municiados de informações que não teriam se alguém do 'sistema' não fizesse beicinho e não se rebelasse.
O fato de não participarem na medida que acham justo, da divisão do bolo, da partilha em medida diferente que agora apontam como a mais injusta e imoral, os expõe de forma explicita.
Nos círculos mais fechados é fácil ouvir: "Dane-se o interesse público”.
Se uma investigação sobre o que é denunciado for feita de forma republicana e isenta, será fácil detectar que por trás de cada denúncia de enriquecimento está outro enriquecimento ameaçado. Atos sistemáticos de violência contra o patrimônio público são conhecidos. Mas nem todos os que amealham patrimônio ao longo da vida enriquecem à margem da ilegalidade. Muitos acusados, aqui e ali, enriquecem trabalhando.
Qualquer denúncia precisa ser investigada. Inclusive os que denunciam por interesses contrariados.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.