'Se viralizou, é porque teve efeito', diz Luisa Mell sobre protesto seminua na COP30
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Luisa Mell está contente com a repercussão de sua manifestação na COP30. Em entrevista à Folha de S.Paulo, a ativista comemorou o sucesso da ação em que ficou seminua, pintada de planeta Terra, em frente ao pavilhão da conferência climática, na última quinta-feira (6).
"O objetivo de uma ação de ativismo é realmente chamar a atenção", diz Luisa. "Nunca tinha feito isso, mas não fiquei com vergonha, não. A pintura me deixou totalmente confortável. E o tema é tão importante para mim, é tão desesperador, que a ação se torna muito maior do que eu."
Segundo ela, a ideia partiu da Peta (Pessoas pelo Tratamento Ético de Animais), entidade com a qual já fez algumas parcerias. "Eles me convidaram para fazer esse protesto e topei na hora", diz. A ONG levou a Belém uma artista americana especializada em pintura corporal para transformar Luisa no globo terrestre. O processo demorou cerca de cinco horas, conta.
"Tinha bastante gente olhando, carro e moto buzinando, mas espero que tenham entendido a mensagem", diz ela sobre a performance. "Tem pessoas que ficam gozando, mas elas estão, de alguma maneira, sendo impactadas. De uma maneira ou de outra, começam a pensar e olhar mais para isso", avalia.
SEM CARNE
A mensagem de Luisa (e da Peta) é que a alimentação a partir de ingredientes de origem animal é a principal responsável pelo desmatamento da Amazônia. Ela se diz inconformada com o fato de que o cardápio do evento não é totalmente vegano.
O protesto de Luisa foi endossado por ninguém menos que Paul McCartney. O beatle, que também é aliado da Peta e conhecido defensor da causa animal, mandou uma carta ao presidente da COP30, André Corrêa do Lago, reclamando do cardápio com carne.
Luisa diz que concorda com a comparação feita por Paul, de que servir carne na COP é igual a distribuir cigarros em uma conferência sobre o câncer. "Exatamente! A gente está discutindo o problema e causando o problema ao mesmo tempo", comenta.
IMERSÃO COM PAUL WATSON
Luisa conta que acaba de voltar de uma imersão de ativismo com Paul Watson, ambientalista canadense fundador da Sea Shepherd. Watson, que também está na COP30, já foi preso várias vezes e arriscou a própria vida tentando salvar os animais. Ele quase morreu ao se jogar em uma rede de pesca e ser pescado junto com focas no Japão.
Perto de ações como as de Watson, ficar nua com tinta corporal é bem menos extremo, admite Luisa. "A única coisa que nós ativistas podemos fazer é isso: tentar chamar a atenção das pessoas para que elas tenham um despertar, antes que seja tarde demais", diz.
Apesar de celebrar o impacto de sua ação, Luisa se diz desanimada com os rumos da COP30. "Infelizmente, essa COP deixa a desejar. Falam de transição energética, mas estão liberando a extração de petróleo, falam em proteger a floresta e não falam sobre a principal causa da destruição, que é a pecuária e o agronegócio", diz. "O agro está tentando controlar a narrativa."
Apesar do cansaço e do desespero, diz ela, "um ativista nunca pode perder a fé". "Não é porque eu não vou conseguir tudo, que eu não vou fazer nada. Tenho que manter a fé de que uma hora as pessoas acordem. Se viralizou, é porque furou a bolha, teve efeito", diz.
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